A Índia enfrenta a pior onda de contaminações da Covid-19 desde o início da pandemia, com mais de 165 mil casos registrados nas últimas 24 horas: duas vezes mais do que no último pico, em setembro de 2020. Para a grande preocupação das autoridades, uma variante do vírus vem se propagando mais rapidamente e é menos detectada por meio de testes.
Há vários dias, o clínico geral indiano Souradipta Chandra realiza uma consulta após a outra, sem intervalos, na clínica Helvetia, no sul de Nova Délhi. “Em tempos normais, eu recebia no máximo 20 pacientes, mas, ontem, eu vi 60, dos quais 40 estavam contaminados com a Covid-19”, conta à RFI.
Exausto, Chandra confirma a maior gravidade desta segunda onda de infecções no país de 1,3 bilhão de habitantes. “Minha última consulta foi às 2h30 da manhã. O vírus está se propagando como um incêndio na floresta. Por exemplo, se uma pessoa se contamina, toda a sua família terá sintomas também. Isso virou praticamente uma regra”, reitera.
Para o médico, o mais preocupante é que os testes PCR não conseguem mais detectar todos os casos. “O vírus está se adaptando de forma inteligente e essa mutação indiana parece escapar das detecções. Muitos pacientes recebem resultados negativos nos testes, mas desenvolvem sintomas graves”, relata.
Chandra percebe que outras reações vêm sendo detectadas em seus pacientes nos últimos tempos: “As dores de cabeça agora são mais frequentes, todas as pessoas que eu examino estão sofrendo disso. A nova mutação também atinge mais o cérebro. Muitos doentes reclamam da sensação de confusão”.
Índia se prepara para o pior
O governo de Nova Délhi, que obedece atualmente a um toque de recolher noturno, transformou seus 14 hospitais em centros de tratamento de Covid-19 e se prepara para o pior.
A capital indiana registrou mais de 11 mil casos em 24 horas – um terço a mais do que no pico da primeira onda. As autoridades indicaram no domingo (11) que 65% dos novos pacientes têm menos de 45 anos.
A Índia abriga o Instituto Serum, o maior fabricantes de vacinas no mundo, e lançou uma campanha de vacinação de massa em meados de janeiro. No total, 108 milhões de doses já foram aplicadas.
No entanto, submerso pelo aumento de contaminações, o país aprovou a vacina russa Sputnik V – o terceiro imunizante aprovado no país, depois do produto desenvolvido pela AstraZeneca/Oxford e da Covaxin, da empresa indiana Bharat Biotech. Segundo os acordos de produção assinados pelo fundo soberano russo que promove a vacina, o fabricante indiano produzirá 852 milhões de doses da Sputnik V.
Em paralelo, as autoridades indianas se apressam em conceder autorizações emergenciais a outras vacinas desenvolvidas e fabricadas no exterior.
O objetivo é de vacinar 300 milhões de pessoas até o final de julho. Mas o calendário já registra atrasos devido à ruptura do estoque de imunizantes em alguns estados e a desconfiança de uma parte da população em relação às vacinas.
Por isso, as autoridades tentam convencer a população da importância da imunização. “Com o aumento de casos na Índia, a vacinação é a ferramenta mais eficaz em nossa batalha contra a Covid-19”, afirmou em um comunicado nesta terça-feira (13) G.V. Prasad, copresidente e diretor-gerente da farmacêutica indiana Dr. Reddy’s.
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