“Toca a bola, bicha!” “Vai, viado!” No futebol, expressões inferiorizando homossexuais são usadas com frequência, mas, quando se trata das partidas dos Unicorns, elas significam carinho. Afinal, o time é formado só por gays que gostam de jogar bola – e eles não fazem questão alguma de se esconder.
A ideia surgiu em abril de 2015, quando os amigos Bruno Host e Filipe Marquezin conversavam sobre a vontade de voltar a jogar futebol. Desde então, toda semana o grupo se reúne para bater bola em uma quadra na zona sul de São Paulo. São mais de trinta “unicórnios” que se revezam nas partidas.
Bruno conta que se afastou do esporte na adolescência, antes mesmo de se aceitar como gay. “Desanimei porque era muito agressivo. Acho muito louco ficar tão agressivo jogando um esporte amador”, disse em entrevista ao Hypeness. Mas graças aos Unicórnios a prática voltou a ser prazerosa.
As partidas costumam movimentar mais de vinte pessoas jogando, e muitas outras do lado de fora do campo: “Namorados e amigos se reúnem para torcer, brincar e simplesmente interagir. A quadra se tornou um espaço de convívio muito legal”, diz Host, cujo namorado faz parte dos Bearleaders – brincadeira misturando as tradicionais Cheerleaders aos “ursos”, expressão comum da cultura LGBT.
Ao longo dos dois anos de existência do time, foram poucas as vezes em que a orientação sexual causou problemas. “Ninguém se policia para parecer hétero. Tem gente que olha meio de canto, o pessoal na torcida já ouviu comentários idiotas, mas a gente não deixa que nos afete”, relata Bruno. Mas há também uma barreira que vem dos próprios gays.
“Futebol? Mas isso não é coisa pra viado”, diziam alguns amigos de Bruno que acabaram dando uma chance ao esporte e se divertindo. Outros contaram que tinham vontade de jogar, mas não se arriscavam justamente por se sentir inferiorizados dentro do ambiente futebolístico. Hoje, graças ao Unicorns, todos conseguem se divertir juntos.
Por causa da divulgação que os Unicórnios receberam na imprensa, muita gente interessada entrou em contato querendo jogar também. Os organizadores das partidas já estão pensando em alugar a quadra em outro dia para atender à demanda. Além disso, ficaram sabendo da existência de outros times LGBT.
De São Paulo, são pelo menos mais quatro: três formados por homens gays e um por lésbicas. Inclusive chegaram convites para participar de campeonatos, mas os líderes da equipe querem conversar com os jogadores antes por receio que a competitividade acabe mudando a essência do time.
Mas uma coisa é certa: armários, somente nos vestiários agora.
// Hypeness