As bactérias, assim como os seres humanos, sentem o ambiente, uma descoberta que pode levar ao desenvolvimento de melhores medicamentos contra infecções bacterianas, revelaram cientistas da Universidade do Colorado, em Boulder, nos Estados Unidos.
A descoberta, divulgada nesta quarta-feira (16) e considerada “a primeira observação documentada” do sentido do tato em bactérias individuais, é o resultado de um estudo realizado com bactérias Escherichia coli.
Segundo Giancarlo Bruni, do Departamento de Biologia Molecular, Celular e de Desenvolvimento da universidade, tanto as bactérias como os humanos utilizam pequenos impulsos elétricos gerados por íons de cálcio para transmitir informação do ambiente ao sistema nervoso e sensorial (ou seu equivalente bacteriano).
“Os humanos e as bactérias não são assim tão diferentes”, afirmou Bruni no estudo publicado na revista especializada Proceedings of the National Academy of Sciences, realizado com Joel Kralj, Andrew Weekley e Benjamin Dodd.
Os cientistas já sabiam que as bactérias reagem ao ambiente e se comportam de maneira distinta caso, por exemplo, tenham acesso ou não ao açúcar, ou se estiverem sobre uma superfície rígida ou macia, mas o novo estudo percebeu que as bactérias também “sentem” o que está ao redor.
Para comprovar isso, Bruni e os colegas colocaram as bactérias dentro de uma superfície pegajosa e as observaram com um microscópio. Se nada tocasse nas bactérias, estas se mantinham estáticas. Quando eram tocadas ou empurradas, “acendiam”, ou seja, emitiam uma luz tênue indicando que estavam usando eletricidade para transmitir informação.
“Acreditamos que as bactérias usam esses sinais elétricos para modificar seu estilo de vida”, explicou o professor Kralj, do Instituto BioFrontiers.
Isto significa que as bactérias e os humanos compartilham de “uma ferramenta comum para sentir o ambiente ao redor”, e os sinais elétricos e as origens do sistema neurológico humano, a partir de uma perspectiva evolutiva, remontam a “milhares de milhões de anos”, já que bactérias estão presentes entre os organismos mais antigos do planeta.
Mas também quer dizer que a “ferramenta comum” pode ser usada contra as bactérias, já que é exatamente essa ferramenta que faz com que certas bactérias sobrevivam aos antibióticos. Por isso, o passo seguinte do estudo, segundo os pesquisadores, será determinar de que maneira as bactérias usam seus impulsos elétricos para infectar as células humanas.
“Se bloquearmos a atividade elétrica da bactéria, talvez elas tenham menos chances de infectar, basicamente, porque não saberão onde estão e, portanto, não saberão como agir”, afirmou Kralj.
EFE // ZAP