Um novo tratamento que utiliza um sistema de avatar para controlar as vozes tipicamente ouvidas por esquizofrênicos pode ser um novo aliado dos pacientes contra as alucinações da doença.
Segundo um novo estudo publicado na revista científica The Lancet, as pessoas que receberam a terapia virtual se tornaram menos angustiadas e passaram a ter alucinações com menos frequência do que as pessoas submetidas apenas ao tratamento convencional.
Um em cada quatro pacientes com esquizofrenia continua a ouvir vozes mesmo seguindo o tratamento convencional, com medicamentos e terapia cognitivo-comportamental.
A nova abordagem, desenvolvida por cientistas da Universidade College London e da King’s College London, ambas na Inglaterra, procura ensinar o paciente a enfrentar essa voz por meio de uma simulação virtual que personaliza a alucinação.
Na prática funciona assim: com a ajuda de um software, o paciente cria um avatar com a voz – incluindo intensidade e tom – e a fisionomia que representa para o que costuma ouvir em sua cabeça.
Durante a sessão, o terapeuta assume o controle do avatar, e simultaneamente conversa com o paciente interpretando o avatar e desempenhando seu papel profissional, em uma conversa com três participantes.
No novo estudo, 150 pacientes que continuaram a ouvir as vozes por mais de um ano foram divididos em dois grupos: metade foi submetida a seis sessões da nova terapia e os outros 75 pacientes fizeram a mesma quantidade de sessões da terapia convencional.
Nas sessões com o avatar, os pacientes eram encorajados a tomar o controle da conversa e dizer coisas como “não vou mais te ouvir”. Dessa forma, o paciente aprende a tomar as rédeas da situação e enfrentar a voz, ao contrário do que acontece em um momento de alucinação.
Os resultados mostraram que a nova abordagem foi duas vezes mais efetiva do que a terapia na redução da frequência das alucinações. “Após 12 semanas, houve uma melhora considerável em comparação com a terapia convencional. Com a ajuda de um avatar, os pacientes aprendem a confrontar e ter resposta do confronto, o que muda a ideia de que a voz está no comando”, disse Tom Craig, principal autor do estudo, à BBC.
Entretanto, após 24 semanas, os pacientes de ambos os grupos apresentaram os mesmos níveis de melhora. Segundos autores, esse resultado sugere que a terapia avatar precisa ser frequentemente reforçada para uma recuperação a longo prazo.
De acordo com Robin Murray, professor do Instituto de Psiquiatria do King’s College London, a nova descoberta pode trazer uma nova e importante abordagem ao tratamento para a esquizofrenia.
“Se uma intervenção inteiramente psicológica, como a terapia avatar, pode produzir tal melhora, precisamos repensar a maneira como conceitualizamos as alucinações auditivas”, afirma.
Por outro lado, para Stephen Lawrie, diretor de psiquiatria da Universidade de Edimburgo, mais pesquisas são necessárias para comprovar o efeito do novo tratamento.
“É necessário um estudo mais aprofundado para replicar esses resultados, estabelecer o papel desse tratamento em relação a outros, como a terapia cognitivo-comportamental, e esclarecer qual deles tem maiores benefícios”, conclui.
Ciberia // ZAP