Já há algum tempo que a Ciência sabe que a vida na Terra começou na água. Mas, a certa altura, a evolução permitiu que os seres que viviam na água se mudassem para solo terrestre e dominassem o planeta. Agora, sabe-se que o contrário também aconteceu.
Em algum momento, os animais que viviam na terra se mudaram para os mares. A biologia já sabia como é que os seres vivos tinham migrado do mar para a terra, mas só agora foi possível descobrir que o contrário (e como) também aconteceu.
Os cientistas da Universidade Johns Hopkins e do Museu Americano de História Natural acabaram de encontrar pistas importantes ao pesquisar um fóssil com 155 milhões de anos.
Segundo os cientistas, o réptil Vadasaurus herzogi possuía características aquáticas, incluindo uma cauda alongada e em forma de chicote e cabeça triangular, enquanto os membros relativamente grandes o ligam, por outro lado, a espécies terrestres.
O Vadasaurus, termo latino para “lagarto caminhante“, foi descoberto em pedreiras de calcário perto de Solnhofen, na Alemanha, parte de um antigo mar raso, explorado há muito tempo devido à grande quantidade de descobertas fósseis.
“Características anatômicas e comportamentais de grupos modernos de seres vivos acumularam-se por longos períodos de tempo. Os fósseis podem nos ensinar muito sobre a história evolutiva, incluindo a ordem em que essas características evoluíram e o papel adaptativo em um ambiente de mudança”, explica Gabriel Bever, cientista do Museu Americano de História Natural, em Nova York.
“Sempre que podemos ter um fóssil como este, tão bem conservado e significativo na compreensão de uma grande transição ambiental, é muito importante”, completa o paleontólogo do Museu, Mark Norell. “É tão importante que podemos considerar o Vadasaurus como o Arqueopteryx dos rincocefálicos (répteis primitivos)”, acrescenta.
De acordo com Bever, a pesquisa que os cientistas fazem pode ser acrescentada a uma lista de criaturas do mar cujos antepassados eram vertebrados terrestres. Estes incluem baleias modernas, focas e cobras marinhas, e espécies antigas (e agora extintas) como os ichthyosaurus, mosasaurus e plesiosaurus.
Bever diz que o estudo oferece provas de que o Vadasaurus pode ser ligado pela sua anatomia a um pequeno grupo de espécies marinhas chamadas pleurosauros, sobre os quais há muito tempo se pensava terem raízes terrestres.
Os pleurossauros viveram durante o período jurássico, há cerca de 185 a 150 milhões de anos. As criaturas, semelhantes a enguias, tinham membros reduzidos que provavelmente seriam usados como auxílio na direção em vez de propulsão na água. Até agora, fósseis de apenas três espécies antigas de pleurossauros foram descobertos.
Bever e Norell dizem que o Vadasaurus e os pleurosauros fazem parte de uma linhagem de répteis chamada Rhynchocephalia.
Como acontecia com os pleurosaurios, o crânio do Vadasaurus possuía uma forma triangular, uma adaptação encontrada entre muitos animais aquáticos, como a maioria dos peixes, enguias e baleias. Além disso, o animal tinha também um focinho alongado, comum entre os animais marinhos, apresentava dentes mais afastados do corpo.
Outra característica “aquática” do Vadasaurus está relacionada com a mordida. Ao examinar a forma e a estrutura do crânio do animal, os cientistas concluíram que a mordida do Vadasaurus provavelmente era um movimento rápido, feito lateralmente, em comparação com a mordida mais lenta e forte, típica dos animais terrestres.
Apesar das características aquáticas, o Vadasaurus manteve algumas características mais frequentemente encontradas entre os vertebrados terrestres. Por exemplo, possuía membros grandes em relação ao tamanho do corpo, algo comum em um réptil terrestre.
Porém, assim como acontecia com os pleurossauros, os cientistas acreditam que eles não usavam os membros para propulsão, mas sim para o direcionamento. O Vadasaurus pode ter nadado como uma cobra do mar moderna, movendo a coluna vertebral com um movimento ondulante.
“Os dados indicam que o Vadasaurus é um primo primitivo do pleurossauro“, diz Bever. Segundo o cientista, os dois répteis ancestrais estão intimamente relacionados com o moderno tuatara, um réptil que vive nas ilhas costeiras da Nova Zelândia e é a única espécie rincocefálica restante ainda viva.
“Não sabemos exatamente quanto tempo o Vadasaurus passava na terra versus na água. Pode ser que o animal tenha desenvolvido as adaptações aquáticas por algum outro motivo, e que essas mudanças simplesmente fossem vantajosas para a vida na água”, diz Bever. O pesquisador conclui ainda que mais detalhes sobre a história evolutiva do Vadasaurus exigirão mais dados e outras descobertas fósseis.
Ciberia // HypeScience / ZAP