A parceria entre a Associação Portuguesa de Nutrição (APN) e as marcas Coca-Cola e McDonald’s tem gerado controvérsia. A associação alega que o dinheiro era indispensável.
A Coca-Cola e a McDonald’s estão entre as empresas patrocinadoras do XVII Congresso de Nutrição e Alimentação, organizado pela Associação Portuguesa de Nutrição (APN), que começou nesta quinta-feira (10).
Entretanto, o apoio dessas marcas tem gerado controvérsia no interior da associação, com nutricionistas dizendo-se “chocados” com o tipo de parceria. No entanto, a própria associação justifica que, sem essas parcerias, não era possível fazer um congresso internacional.
Sob anonimato, um nutricionista disse ao Público que existe uma guerra destes profissionais de saúde contra os alimentos processados. “Foi, aliás, aplicada uma taxa ao açúcar, e, ao mesmo tempo, estabelecem-se parcerias com marcas que produzem alimentos prejudiciais à população, dando palco para que façam propaganda de seus produtos, que são responsáveis por muitas doenças crônicas?”, questiona.
Segundo o especialista, o evento “chega a parecer uma feira alimentar, mais do que um congresso de nutrição”. “As pessoas saem de lá com sacos cheios de sopas instantâneas, iogurtes, refrigerantes, sorvetes. É uma espécie de hipermercado“, criticou.
Por sua vez, a diretora da Ordem dos Nutricionistas portuguesa, Alexandra Bento, reconheceu que não deveria existir esse tipo de parceria. “O congresso da Ordem dos Nutricionistas reuniu mais de mil congressistas, no ano passado, e foi isento de patrocínios, isto é, viveu apenas do valor de inscrição de cada participante. Entendemos que não podia ser de outra maneira, mas cabe a cada um criar suas regras de conduta”, afirmou.
Já Célia Craveiro desvalorizou a polêmica. Para a presidente da APN não existe qualquer conflito de interesses. “São essas parcerias que permitem fazer um congresso internacional que facilita o acesso à ciência”, explica.
Além disso, continua, “os profissionais de saúde e a indústria alimentar devem trabalhar em conjunto, numa lógica de procura de consensos e não numa lógica de exclusão. Mais do que questionar o que as pessoas levam para casa nos sacos, deviam ver a dinâmica do congresso”.
Em uma época em que os alimentos processados são o grande inimigo da saúde, essa é uma polêmica que tem assombrado o congresso. Porém, essa não é a primeira vez que as parcerias entre a APN e marcas como a Coca-Cola ou McDonald’s geram controvérsia em Portugal.
No ano passado, a associação teve críticas idênticas, com a presidente da APN utilizando argumentos idênticos para rematar a questão.
Ciberia // ZAP