A Igreja Católica no Chile publicou um manual de instruções dirigido aos sacerdotes sobre os comportamentos proibidos na interação com crianças e menores.
Segundo o El País, “abraços muito apertados”, “palmadas nos glúteos, tocar na área dos genitais ou no peito”, “fazer massagens”, “dar beijos na boca” ou “se encostar ou dormir junto com meninos, meninas ou adolescentes” são algumas das proibições que constam no documento assinado pelo cardeal de Santiago do Chile, Ricardo Ezzati.
O manual foi publicado e rapidamente retirado do site da igreja chilena poucas horas depois de a polêmica ter se instalado. O documento foi assinado pelo cardeal de Santiago do Chile, acusado pela justiça chilena de encobrir abusos sexuais no seio da igreja católica, que explicava na introdução do manual que era apenas uma versão de trabalho.
Assim, a versão definitiva do documento – Orientações que promovem o bom trato e a Coexistência Pastoral Saudável – deveria ficar pronta em abril do próximo ano. Por enquanto, o cardeal não faz referência a abusos sexuais, falando apenas de “sinais ambíguos”.
Apesar de ser apenas uma versão, o documento gerou indignação entre as vítimas que acusam a igreja chilena de não compreender a dimensão da tragédia dos abusos sexuais, classificando o documento de “vergonhoso“.
Jaime Concha, médico chileno que entre dez e 17 anos sofreu abusos sexuais de sacerdotes no colégio que frequentava, disse ao jornal espanhol que o documento “demonstra com clareza que a igreja não entende nada dessa tragédia”. “É indignante“, atirou.
Com nove páginas, o documento tem um capítulo dedicado a “mostras de afeto”, no qual a igreja católica no Chile proíbe os “abraços por trás”, “lutar ou entrar em jogos que impliquem tocar de maneira inapropriada” e “condutas que podem ser mal interpretadas e por isso devem ser evitadas”.
Além disso, acrescenta, os sacerdotes não devem “violar a privacidade, olhando ou tirando fotos de meninos, meninas, adolescentes ou pessoas vulneráveis que estejam nuas, se vestindo ou tomando banho”.
O certo é que a polêmica em torno do documento se instalou muito rapidamente, com Ricardo Ezzati sentindo a necessidade de vir esclarecer em público que se tratava apenas de um instrumento de trabalho.
Dessa forma, o cardeal vincou que “serão corrigidos certos conteúdos que foram traduzidos de forma literal e que não são adequados e podem ser sujeitos a interpretações erradas”.
O escândalo de abusos sexuais cometidos por membros do clero no Chile reacendeu após a visita do Papa Francisco ao país. A viagem motivou fortes críticas contra o bispo Juan Carlos, acusado de encobrir durante décadas abusos sexuais praticados pelo padre Fernando Karadima, condenado em 2011 pelo Vaticano e suspenso das funções.
Ciberia // ZAP