Os cristais líquidos, presentes nas telas eletrônicas, podem ter tido um papel muito mais antigo: ajudar a reunir as primeiras biomoléculas do planeta Terra.
De acordo com a Europa Press, que cita o estudo publicado nesta quarta-feira (3) na ACS Nano, a equipe de cientistas descobriu que as moléculas de RNA curtas podem formar cristais líquidos que estimulam o crescimento de correntes mais longas.
Os cientistas têm especulado que a vida na Terra se originou em um “mundo de RNA”, onde esse ácido ribonucleico cumpria a dupla função de transportar informação genética e conduzir o metabolismo antes do surgimento do DNA ou das proteínas.
De fato, os cientistas descobriram cadeias catalíticas de RNA, ou “ribozimas”, nos genomas modernos. As ribozimas conhecidas têm um comprimento de aproximadamente 16-150 nucleotídeos, então, surge a questão: como essas sequências foram reunidas em um mundo primordial sem ribozimas ou proteínas existentes?
Tommaso Bellini, da Universidade de Milão, na Itália, e os colegas restantes se questionaram se os cristais líquidos poderiam ajudar a guiar os precursores de RNA curtos para formar correntes mais longas.
Para perceber isso, a equipe explorou diferentes cenários em que os RNA curtos poderiam se “auto-reunir” e descobriram que, em altas concentrações, as sequências curtas de RNA (de 6 ou 12 nucleotídeos de comprimento) são sequenciadas espontaneamente em fases de cristal líquido.
Os cristais líquidos se formaram ainda mais facilmente quando os cientistas adicionaram íons de magnésio, que estabilizaram os cristais, ou polietilenoglicol, que sequestrou o RNA em microdomínios altamente concentrados.
Uma vez que os RNA foram mantidos juntos em cristais líquidos, um ativador químico poderia unir eficientemente suas extremidades em cadeias muito mais longas. Essa disposição também ajudou a evitar a formação de RNA circular, que não podiam se alongar mais.
Os cientistas assinalam que o polietilenoglicol e o ativador químico não seriam encontrados em condições primordiais, mas dizem que outras espécies moleculares podem ter desempenhado funções similares, mas menos eficientes.
Ciberia // ZAP