Como era o mundo da última vez em que havia tanto CO2 na atmosfera quanto hoje? Árvores cresciam perto do Polo Sul, os níveis do mar eram 20 metros mais altos do que agora, e as temperaturas globais eram 3 a 4 graus Celsius mais quentes. Isso foi na época do Plioceno, 5,3 milhões a 2,6 milhões de anos atrás.
Muitos cientistas usam modelos computacionais sofisticados para prever os impactos das mudanças climáticas causadas pelo homem. Contudo, olhar para trás e buscar exemplos reais do que já ocorreu no mundo pode fornecer novos insights.
Usando registros sedimentares e fósseis de plantas, pesquisadores britânicos descobriram que as temperaturas próximas ao Polo Sul eram cerca de 20° C mais altas do que agora durante o Plioceno, quando os níveis de CO2 estavam tão altos quanto hoje.
Essa época é uma “analogia apropriada” e nos oferece lições importantes sobre o caminho a seguir, de acordo com Martin Siegert, geofísico do Imperial College London, no Reino Unido.
A temperatura global já subiu 1° C desde a revolução industrial, quando os níveis de CO2 eram de 280 partes por milhão (ppm). O CO2 está agora em 412ppm e subindo.
No Plioceno, com esse mesmo nível de CO2, havia uma variedade de faias e possivelmente coníferas em Oliver Bluffs, a cerca de 500 quilômetros do Polo Sul. Os restos dessas árvores foram desenterrados como fósseis, juntamente com plantas e musgos.
Jane Francis, diretora do British Antarctic Survey, disse: “Esta é uma descoberta incrível. Eu as chamo de as últimas florestas da Antártida. Elas estavam crescendo a 400ppm de CO2, então pode ser para lá que estamos voltando, com o derretimento das camadas de gelo, o que pode permitir que as plantas colonizem novamente”.
As evidências também indicam que as temperaturas de verão no Plioceno eram de cerca de 5° C perto do Polo, em comparação com -15 a -20° C hoje. A presença de plantas indica que a calota de gelo da Antártida era muito menor, e o nível do mar muito mais alto.
“Vinte metros de aumento do nível do mar teriam um grande impacto em todas as nossas cidades e áreas costeiras onde pessoas vivem”, argumentou Francis. Mas tais enormes elevações levariam provavelmente alguns milênios para acontecer.
As regiões polares são especialmente importantes na compreensão do clima global; são nesses locais que a mudança acontece primeiro e é mais dramática.
Cerca de 100 milhões de anos atrás, um clima ainda mais extremo ocorreu. No período Cretáceo, os níveis de CO2 eram de 1.000 ppm. Nessa época, a Antártica era quente e coberta de grandes florestas, cujos tocos e solo foram preservados como fósseis em lugares como a Ilha Alexander. “Se mantivermos as emissões de carbono na taxa atual, até o final do século, teremos 1.000ppm”, disse Siegert.
Uma das perigosas consequências dessas emissões descontroladas já foi descartada, entretanto: o retorno a uma era glacial. Embora tenha acontecido várias vezes nos últimos milhões de anos, o CO2 está agora em um nível muito alto para que haja alguma chance de um grande congelamento, defendeu Siegert.
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