Em meio à luta de familiares por justiça, homenagem aos 270 mortos na tragédia da Vale ocorre paralelamente ao Sínodo para a Amazônia. Em Mariana, Samarco ganha licença para retomar atividades quatro anos após desastre.
Enquanto Marcela Rodrigues distribui 270 fotos pelo piso da igreja Transpontina, no Vaticano, outros voluntários acendem velas e empurram os bancos para trás.
É preciso mais espaço para abrigar as imagens impressas em folha A4 das vítimas do desastre de Brumadinho, soterradas nove meses atrás, após o rompimento da barragem da Vale, em 25 de janeiro. Uma reprodução de duas ultrassonografias de bebês mortos na barriga das mães também são acomodadas no local. Escrito em inglês, um cartaz pede justiça para o desastre na cidade mineira.
“Estamos lutando para que o que aconteceu em Brumadinho não se repita, para que não existam mais essas mortes desnecessárias”, afirma Marcela durante a homenagem neste sábado (26/10). A jovem, que perdeu o pai Denílson na tragédia, conta que muitos sobreviventes e pessoas no município estão enfrentando problemas psicológicos.
O grupo que veio do Brasil percorrerá ao todo sete países. Eles já estiveram na Alemanha, onde a empresa TÜV Süd, que emitiu o certificado de segurança da estrutura que rompeu, é sediada. Em Munique, os familiares apresentaram uma denúncia contra a companhia alemã e um diretor da empresa no país, sob acusações de homicídio culposo, negligência e corrupção.
Do Vaticano, o grupo irá a Bruxelas. Na capital da União Europeia, parentes e advogados que representam as vítimas têm uma série de reuniões marcadas com parlamentares.
“Iremos defender a proposta de uma lei europeia para devida diligência em relação a direitos humanos e meio ambiente de todas as empresas europeias em toda a cadeia de valor”, detalha Danilo Chammas, advogado que acompanha o grupo.
A lei obrigaria as empresas a averiguarem a origem das matérias-primas e produtos que compram de outros países e, em caso de uma análise malfeita ou insatisfatória, as compradoras seriam responsabilizadas legalmente.
“Ou seja, elas seriam responsabilizadas pelas violações aos direitos humanos, aos danos ao meio ambiente que as empresas das quais compraram causaram nos países onde atuam”, esclarece Chammas.
França e Holanda são os países europeus que mais importaram minério de ferro do Brasil até setembro, segundo dados do Ministério da Economia. A Vale, maior exportadora dessa matéria-prima no mundo, praticamente vende ao exterior toda a sua produção.
Segundo Chammas, uma proposta de lei semelhante à que será levada ao Parlamento Europeu foi aprovada na França. Campanhas para a criação de regras similares estão em andamento na Alemanha e na Suíça. “Nós estamos aqui para demonstrar também que empresas europeias estão diretamente implicadas em tragédias como a de Brumadinho”, argumenta o advogado.