Apesar do registro de mais de um milhão de infectados à escala mundial, a doença poderia ser suplantada por patologias bem mais perigosas.
Comparando com as doenças que poderiam reaparecer como resultado do aquecimento global, o SARS-CoV-2 seria apenas um vírus “benigno”, adverte Jean-Michel Claverie, cientista do Centro Nacional de Investigação Científica (CNRS, na sigla em francês) e da Universidade de Aix-Marseille na França.
O degelo do permafrost e a migração de insetos aumentam o risco de aparição de doenças perigosas, como a varíola, assinalou, em um artigo do portal Reporterre.
Citando o exemplo da dengue e do vírus chikungunya, Claverie, investigador do Laboratório de Informação Genômica e Estrutural, adverte que os insetos das regiões tropicais ou quentes poderiam migrar para norte.
“Com o aquecimento global, estamos assistindo a um deslocamento de certas doenças típicas do sul em direção ao norte”, diz o cientista, que vê como possível a chegada da malária na França, em um futuro próximo.
Além disso, as mudanças climáticas estão provocando o aquecimento e derretimento do permafrost, que contém muita matéria orgânica congelada, podendo levar ao reaparecimento de bactérias ou vírus perigosos para os seres humanos, alerta o cientista.
Claverie recorda o sucedido na Sibéria em 2016, quando, após o degelo dos restos de uma rena infectada com antraz 70 anos antes, morreu um rapaz de 12 anos e cerca de 20 pessoas foram infectadas.
O cientista, que com sua equipe já descobriu em 2014 dois novos vírus com 30.000 anos no permafrost siberiano, adverte que, à medida que este vai aquecendo, vai libertando microrganismos que existiam e que eram infecciosos há muito tempo atrás.
Cavalier assinala que ele e sua equipe foram os primeiros a mostrar que a capacidade de entorpecimento dos vírus ocorre a uma maior profundidade no gelo. Os pesquisadores retiraram amostras da profundidade de 30 metros, o que corresponde à idade do homem de Neandertal.
“Há vírus que ainda estão perfeitamente vivos, podendo ser reativados após 40.000 anos de congelação no permafrost”, adverte.
No entanto, falta definir se os vírus congelados têm a capacidade de atacar o sistema imunitário humano, salienta o investigador.
Tal seria possível somente se o vírus conseguisse se adaptar. Nesse caso, doenças dos tempos do homem de Neandertal ou dos mamutes, bem como a varíola, a única doença oficialmente reconhecida como erradicada no mundo, poderiam reaparecer.
“Descobriu-se que pessoas ali enterradas tinham morrido de varíola”, observa Jean-Michel Claverie, acrescentado que tal foi possível estabelecer ao identificar a presença do DNA do vírus através de métodos forenses.
O cientista alertou ainda para os perigos da exploração econômica humana nas zonas polares, com a consequente movimentação de terras e libertação de microrganismos, acrescentando que a atual pandemia poderia vir a ser considerada como “benigna” em comparação com outras.
“A SARS matou cerca de 9% das pessoas afetadas. A varíola e a peste vitimaram 30%. Houve pandemias na história da humanidade que mataram metade da população mundial. Chegamos a um tal estado de globalização e de conexão uns com os outros, que um qualquer vírus é suficiente para desorganizar a economia”.
Segundo os últimos dados da Universidade Johns Hopkins, em 3 de abril o SARS-CoV-2 já infectou 1.016.534 pessoas, tendo 53.164 falecido e 211.856 recuperado.
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