Enquanto em parte do mundo a população espera na fila para ser vacinada, a Indonésia avança com uma política de imunização na contramão do resto do planeta. Além de ter dado prioridade para os mais jovens, o governo decidiu que a vacinação é obrigatória, sob pena de sanções. Mas a medida não agrada a todos, inclusive entre os médicos.
As primeiras doses de vacina anti-Covid foram administradas na Indonésia em 13 de janeiro no próprio presidente, Joko Widodo. A aplicação da injeção foi feita no palácio presidencial, diante das câmeras, e transmitida ao vivo pela televisão.
O objetivo da operação era mostrar que a vacina chinesa CoronaVac, única disponível por enquanto no país, era segura. O chefe de Estado também se vangloriou de ser o pioneiro no uso de um produto 100% “halal”, ou seja, que respeita as tradições do Islã, algo importante no maior país muçulmano do mundo.
Mas isso não parece ter tranquilizado a população. Segundo pesquisas de opinião recentes, 52% dos indonésios hesitam em se vacinar. No entanto, eles não têm muita escolha, pois quem se recusar corre o risco de levar uma multa ou ver seus benefícios sociais suspensos.
“É uma péssima ideia, que no final vai dar uma arma suplementar aos antivacinas”, se irrita o epidemiologista indonésio Dicky Budiman, entrevistado pela RFI.
Medo de chip injetado no organismo
O médico lembra que entre os que hesitam em se vacinar, boa parte alega que prefere esperar para ver os resultados da campanha. E o fato de tornar a imunização obrigatória vai suscitar novas questões. “As pessoas vão desconfiar e se perguntar por que são obrigadas. Isso vai alimentar as teorias do complô”.
Se o médico teme o impacto negativo da obrigatoriedade sobre a imagem da vacina é porque a campanha já foi alvo de várias fake news. “Algumas pessoas já dizem que as vacinas que usam o método RNA vão injetar um chip no organismo”, conta.
“Sempre houve ideologias extremistas. Digo isso baseado na minha experiência com as vacinas contra a poliomielite”, explica o médico. Segundo ele, “quanto mais se obriga a vacinar, mais surgem ideias radicais e violentas”.
No Vaticano, quem recusa vacina pode ser demitido
Em dezembro, pouco antes do início da campanha global, a Organização Mundial da Saúde (OMS) preconizou que a vacinação ocorresse de forma voluntária. A indicação foi seguida à risca em boa parte do planeta, tranquilizando os mais céticos.
Em alguns países como na França, conhecida por sua resistência às vacinas em geral, até os líderes políticos tiveram que participar da campanha de pelo “livre arbítrio da vacina”. Logo que os primeiros opositores à imunização começaram a se manifestar, o governo se sentiu obrigado a dizer, claramente, que o procedimento não seria obrigatório.
Em outros lugares a situação é mais ambígua. No Vaticano, por exemplo, os empregados que se recusam a ser vacinados são sancionados. Segundo um decreto publicado nessa quinta-feira (18), as penas podem ir até a demissão do cargo.
As autoridades do Estado do Vaticano alegam que a decisão de punir os que rejeitam o produto foi tomada na esteira de uma lei em vigor desde 2011, segundo a qual um candidato em um processo de recrutamento para trabalhar na Santa Sé poderia ter sua contratação anulada se não aceitasse se vacinar. “Se recusar, pode constituir um risco para os outros”, ressalta o texto.
// RFI