O governo brasileiro deseja criar uma conexão rodoviária entre o Acre e o Peru, vizinho amazônico do nosso país, desde meados da década de 1970.
Adormecido até recentemente, os planos mudaram com a eleição de Jair Bolsonaro e, conforme mostrou matéria da Folha de São Paulo, o processo para abrir o caminho entre a malha viária brasileira e a peruana está a todo o vapor.
A ideia pode causar a morte de diversas espécies, fragilizar populações indígenas e, em última instância, abrir uma vereda para a destruição do Parque Nacional da Serra do Divisor, dono da área com maior biodiversidade do mundo, com a invasão de mineradoras e criações de gado em um dos rincões do país.
Indígenas puyanawa receberam Ministro do Meio Ambiente, um dos principais defensores da criação da estrada, que pode afetar diversas espécies endêmicas da região e certamente afetará biodiversidade da Serra do Divisor
Não há conexão rodoviária entre o nosso Brasil e o Peru. Desde 1989, está previsto em lei que o Parque Nacional da Serra do Divisor teria, em seu meio, uma rodovia que conectaria a cidade de Mâncio Lima a Pucallpa, na Amazônia Peruana.
Esse projeto, entretanto, estava esquecido há anos. Além do custo de uma obra monumental, que poderia acabar como a Transamazônica (iniciada durante a ditadura militar e até hoje não concluída), existe um custo para as vidas do povo Puyanawa, que vive na região do Parque Nacional da Serra do Divisor.
Privatização e rodovias afetam a diversidade
Agora, além da pressão para a extensão da rodovia, pipocam projetos para privatizar o território protegido, além de tentativas de autorização da extração de madeira, criação de gado e mineração na região.
“O entorno da nossa terra já está todo comprometido. Já sabemos o prejuízo que as invasões causam. Os brancos vivem caçando na nossa terra, e as instituições ambientais não têm uma política para impedir. Imagina uma rodovia. Quantos milhões de pessoas vão transitar? Vai aumentar o agronegócio? Vai. Mas a nossa sobrevivência não está no agronegócio”, afirmou o cacique Joel Puyanawa, vereador pelo PT de Mâncio Lima, à Folha.
“Essa rodovia ameaça 100% a nossa terra, destrói o nosso sítio sagrado. Basta o prejuízo que tivemos com o coronel. Se a rodovia sair, extermina a história do nosso povo”, conclui ao jornal paulista. Joel relembra a história de Mâncio Lima, coronel da Seringa que escravizou indígenas para extração da borracha e é tido como herói pela elite acreana.
O governo brasileiro pressiona pela aprovação do projeto e Ricardo Salles, ministro do Meio Ambiente, afirma que o projeto colabora para a integração nacional.
Com a criação da estrada, o desejo de investidores, invasores e garimpeiros pelo santuário da biodiversidade brasileira no pulmão verde do mundo vai crescer, não há dúvida.
Resta saber se o governo Bolsonaro terá tempo suficiente para destruir o Parque Nacional da Serra do Divisor.
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