Nas profundezas do oceano, muito depois do ponto onde os raios de sol podem penetrar, entramos no reino dos tubarões-fantasma. Também chamados de quimeras, esses peixes raramente são vistos por pessoas.
Agora, cientistas do Instituto de Pesquisa do Aquário da Baía de Monterey, na Califórnia, EUA, compartilharam um vídeo, pela primeira vez, de um desses animais vivos nadando no oceano – e a filmagem é fascinante.
Parentes de tubarões e raias, esses habitantes do fundo do mar se separaram desses outros grupos há cerca de 300 milhões de anos.
Embora os tubarões-fantasmas estivessem deslizando pelas profundezas desde muito antes dos dinossauros, sabemos muito pouco sobre eles. Logo, o vídeo recentemente lançado pode nos ajudar a compreender um pouco melhor essas criaturas misteriosas.
A surpresa
Em 2009, o instituto americano enviou um veículo operado remotamente em vários mergulhos a profundidades de mais de 2.000 metros, em águas ao largo da Califórnia e do Havaí.
Eles não estavam procurando tubarões-fantasmas, mas um desses peixes continuava a aparecer na frente da câmera. A espécie não se assemelhava a nenhum tubarão-fantasma conhecido por frequentar qualquer uma dessas regiões.
Para descobrir sua identidade, o instituto pediu a ajuda de Dave Ebert, da Universidade do Estado da Califórnia, e outros especialistas em tubarões-fantasmas.
A equipe analisou o vídeo e acredita que o animal visto é uma Hydrolagus trolli, ou quimera azul de nariz pontiagudo, uma espécie de tubarão-fantasma geralmente encontrada na Austrália e Nova Zelândia.
Embora o tubarão-fantasma não seja novo para a ciência, o vídeo é incrivelmente interessante por se tratar da primeira vez que uma quimera azul pontiaguda é vista viva em seu habitat natural.
Se Ebert e seus colegas estiverem corretos, essa também é a primeira descoberta desta espécie no Hemisfério Norte.
Infelizmente, não podemos ter certeza a menos que obtivermos o DNA de um espécime real, o que não é fácil. Uma das melhores e únicas maneiras de conseguir isso é usar uma rede para coletar um animal nas profundezas, mas o peixe chega geralmente morto na superfície.
Novas informações
Mesmo sem um espécime físico, o vídeo fornece uma riqueza de informações. Em primeiro lugar, ao contrário de muitas criaturas das profundezas, esta parece gostar da câmera e suas luzes brilhantes.
Além disso, os afloramentos rochosos no fundo do vídeo sugerem que as quimeras azuis pontiagudas preferem este habitat ao terreno plano, de fundo macio, que normalmente é o domínio de outras espécies de tubarões-fantasmas.
Ao contrário dos tubarões mais conhecidos, as quimeras não têm fileiras de dentes ásperos; em vez disso, mastigam moluscos, larvas e outros moradores do fundo do mar com placas de dente mineralizadas.
E, talvez mais fascinante, as quimeras masculinas ostentam órgãos sexuais retráteis na testa. Pelo menos outras três espécies de quimera provavelmente vivem em todos os oceanos do mundo, então não é tão surpreendente que esta tenha sido encontrada em uma região inesperada.
Os pesquisadores suspeitam que muitas espécies de tubarões-fantasmas sejam abrangentes, mas nós simplesmente não tenhamos dados sobre elas.
“Esses peixes são apenas uma das muitas espécies bonitas e pouco estudadas que compartilham este planeta conosco”, afirma Dominique Didier, biólogo marinho e especialista em quimeras da Universidade Millersville, nos EUA.
// HypeScience