Prêmio Sakharov vai para o líder oposicionista russo “pela sua consistente luta contra a corrupção do regime de Vladimir Putin”, anuncia o Parlamento Europeu.
O líder oposicionista russo Alexei Navalny, de 45 anos, ganhou o principal prêmio de direitos humanos da União Europeia (UE), o Prêmio Sakharov para a Liberdade de Pensamento 2021, anunciou o Parlamento Europeu, nesta quarta-feira (20/10).
Navalny foi distinguido “pela sua consistente luta contra a corrupção do regime de Vladimir Putin”, afirmou o presidente do Parlamente Europeu, David Sassoli. “Por causa disso ele foi envenenado e posto na cadeia”, acrescentou.
“Ao darmos o Prêmio Sakharov a Alexei Navalny, reconhecemos sua imensa bravura e reiteramos o firme apoio do Parlamento Europeu a sua libertação imediata”, disse Sassoli.
O Prêmio Sakharov leva o nome do físico, dissidente soviético e Prêmio Nobel da Paz Andrei Sakharov e é dotado de 50 mil euros. A cerimônia de entrega será em 15 de dezembro, em Estrasburgo.
O oposicionista russo era um dos indicados ao prêmio, ao lado de um coletivo de mulheres afegãs que lutam pelos direitos humanos e pela igualdade e que sofrem represálias dos talibãs e da ex-presidente interina da Bolívia Jeanine Áñez.
Navalny é um dos principais opositores do presidente Vladimir Putin e está preso desde janeiro deste ano na Rússia. Ativista contra a corrupção, Navalny se tornou conhecido por suas investigações sobre o modo de vida e irregularidades financeiras das elites russas.
A homenagem a ele deverá piorar ainda mais as relações entre a União Europeia e a Rússia.
Envenenado e depois preso
Navalny foi detido em janeiro em Moscou ao retornar da Alemanha, onde passou cinco meses se recuperando de um envenenamento por um agente nervoso desenvolvido na época da União Soviética. Ele acusa o Kremlin de tentar matá-lo. O governo russo nega.
Em fevereiro, um tribunal da Rússia sentenciou Navalny a três anos e meio de prisão. A Justiça alegou que o ativista, em sua estada na Alemanha, violou as condições de sua liberdade condicional relacionada a uma sentença proferida em 2014 ao não se apresentar regularmente para as autoridades.
A sentença original envolve um suposto caso de fraude, num processo que foi considerado politicamente motivado e declarado ilícito pelo Tribunal Europeu de Direitos Humanos.
A prisão de Navalny foi o estopim para protestos contra o Kremlin. Milhares de pessoas saíram às ruas em dezenas de cidades para exigir a libertação do ativista e demonstrar insatisfação com o governo autoritário do presidente Putin. A reação das autoridades foi dura, e mais de 10 mil pessoas foram detidas.
Na prisão, o opositor chegou a fazer uma greve de fome. Ele passou 24 dias sem comer para protestar contra a recusa das autoridades em permitir que ele fosse examinado por um médico particular. Navalny reclamava de fortes dores nas costas e dormência nas mãos e nas pernas.
Cotado para o Nobel da Paz
Navalny era um dos nomes mais cotados para receber o Prêmio Nobel da Paz em casas de apostas. O prêmio foi outorgado a outro russo, o jornalista Dmitry Muratov, ao lado da filipina Maria Ressa.
Logo após ser informado de que era um dos vencedores do Prêmio Nobel da Paz de 2021, Muratov disse que Navalny deveria ter recebido a distinção.
Navalny, por sua vez, felicitou Muratov e disse que o prêmio foi merecido. “O mundo precisa de um jornalismo que não tenha medo da verdade”, declarou.