Não apenas a opinião pública, os governos e a mídia estão acompanhando o desenrolar da pandemia de covid-19 no Brasil. Os bancos de investimento também estão monitorando o curso da crise e publicando análises que atualizam continuamente.
Fundos de investimento como Fundo Verde e Estáter acabam de lançar seus relatórios, para os quais coletam a opinião de especialistas em temas tão diversos quanto saúde pública e baixa renda, além de empresários, sociólogos, médicos. A razão do esforço: também entre os investidores há grande incerteza sobre como a situação vai evoluir.
Em parte, eles erraram de cálculo em face da pandemia. Por exemplo, Luis Stuhlberger, do Fundo Verde, durante muitos anos um dos gestores de fundo mais bem-sucedidos do Brasil, admite que subestimou completamente a gravidade e a importância da covid-19 apenas dois meses atrás.
O problema em toda América Latina é a falta de transparência. Os governos quase não dispõem de dados empíricos para basear sua gestão de crise, tanto em relação ao sistema de saúde quanto aos planos de abertura da economia. Existem muito poucos testes para possibilitar levantamentos representativos sobre o número de infectados.
É ilusório esperar que eles apareçam nas próximas semanas, como alguns governos continuam prometendo. Somente quando os doentes entrarem em contato com o sistema público de saúde é que as avaliações dos efeitos da crise do coronavírus serão mais realistas do que as atuais.
A maioria dos investidores já tomou sua decisão: eles estão retirando seu capital de títulos latino-americanos. O Índice Bovespa, da B3, em São Paulo, a maior bolsa de valores da América Latina, perdeu cerca de 50% de seu valor em dólares desde o início do ano. As perspectivas de que esses investidores de portfólio retornem logo são pequenas.
As análises dos bancos de investimento afirmam que não vale a pena para os investidores correrem o risco na América Latina, pois as perspectivas de recuperação e crescimento para a região são muito fracas no médio prazo. Os crescentes déficits e endividamentos de Estados e empresas devido às medidas de auxílio e quedas de arrecadação atrasarão a recuperação econômica.
No Brasil, o déficit orçamentário deve aumentar drasticamente, apesar da reforma da Previdência obtida após duras negociações em outubro do ano passado. Com a reforma, o Estado pretendia economizar cerca de 200 bilhões de dólares em dez anos. Mas agora o efeito dessa economia deve ser pulverizada. Até o final do próximo ano, o Brasil pode vir a gastar tanto em medidas socioeconômicas de emergência quanto pretendia economizar com a reforma da Previdência.
Como consequência, o déficit do Brasil crescerá rapidamente. Pois a arrecadação de impostos também vai cair por causa da recessão. O Brasil terá que cobrir a lacuna de financiamento com novas dívidas.
O cenário não é exclusivo ao Brasil. A maioria dos mercados emergentes enfrenta agora o problema de ter de contrair novos empréstimos – mas eles já estão fortemente endividados, muito mais que durante a crise financeira global de dez anos atrás. A fraqueza de suas moedas fragilizam ainda mais a posição desses Estados como devedores.
Com o real fraco, será cada vez mais difícil para o Brasil pagar os crescentes juros e amortizações, medidos em dólar. A dívida do Brasil pode crescer para mais de 90% de seu Produto Interno Bruto (PIB) até o final deste ano. Isto seria o mesmo que tinham França e Espanha antes da crise. Mas o Brasil não tem Banco Central Europeu nem um bom grau de investimento para financiar suas dívidas.
Seria fatal se o capital que os investidores do mercado financeiro estão retirando do Brasil for apenas um prenúncio de novas fugas. Estrangeiros até agora dispostos a empregar dinheiro em fábricas, novos produtos, tecnologias ou serviços no Brasil podem logo vir a mudar de ideia, assustados com as fracas perspectivas de crescimento e com a dívida estatal.
Nas próximas semanas, o curso da pandemia no Brasil dará uma ideia mais clara de como os investidores decidirão.