O corpo humano pode ser uma maravilha da natureza, mas é meio que uma maravilha feita ao acaso, no evoluir de cada espécie, quase que com descuido. Somos projetados de forma imperfeita, propensos a falhas, e temos várias “peças” desnecessárias. Uma delas é o apêndice.
E apesar de sempre haver muito debate em torno das amígdalas, principalmente quando elas incomodam, poderíamos viver melhor sem o apêndice: ter o órgão removido está associado a um risco reduzido de se desenvolver o mal de Parkinson, concluiu um estudo publicado esta semana na Science Translational Medicine.
E não é uma diferença pequena: quem teve o apêndice removido começou a apresentar sintomas de Parkinson mais de 3 anos depois do que as que não tinham. Isto é, se notarem algum sintoma, já que o estudo também descobriu que, sem o apêndice, o risco geral de se desenvolver a doença é reduzida em quase 20%.
A nova pesquisa é o maior e mais longo estudo sobre a condição até agora, envolvendo 1,6 milhão de pessoas por um período de 52 anos, ou seja, 91 milhões de anos de vida humana no total.
Com os dados de mais de 50 anos de registros detalhados de pacientes do Registro Nacional de Pacientes da Suécia, os pesquisadores puderam pesquisar o diagnóstico de doenças, tratamentos e até relacionar indivíduos por idade, sexo e localização, a fim de comparar melhor a progressão, ou não, do mal de Parkinson.
Essa não é a primeira vez que vimos pesquisas ligando o Parkinson a outras áreas do corpo além do cérebro, como o intestino. Por um tempo, os pesquisadores também suspeitaram de um tipo de proteína, chamada α-sinucleína, como um dos agentes por trás da doença. A proteína aparece por todo o corpo, mas é mais abundante no cérebro, onde desempenha um papel na sinalização nervosa.
No entanto, em pacientes com Parkinson, essa proteína pode se transformar em uma pequena porção de partículas, matando as células nas partes do cérebro responsáveis pelo movimento, produzindo tremores, rigidez e lentidão; características da doença.
O novo estudo parece apoiar essa ideia, pois a equipe de pesquisa também descobriu que essas proteínas se acumulam no apêndice. Mas, estranhamente, isso é verdade independente de uma pessoa sofrer de Parkinson ou não, sugerindo que as proteínas são apenas um dos muitos fatores que contribuem para o desenvolvimento da doença.
“É preciso haver algum outro mecanismo ou confluência de eventos que permita que o apêndice afete o risco da doença”, disse a líder da pesquisa, Viviane Labrie, do Centro para Ciência Neurogenerativa do Michigan (EUA) e do Centro para o Vício e Saúde Mental em Toronto (Canadá), ao The Guardian. “É isso que pretendemos analisar a seguir: que fator ou fatores inclinam a escala em favor do Parkinson“, concluiu.
EM, Ciberia // IFLScience