A exploração espacial sempre rende fascínio, seja envolvendo a Lua, seja envolvendo outros mundos do Sistema Solar — e além. Falando apenas dos eventos mais recentes neste sentido, logo após a comemoração dos 50 anos do lançamento da Apolo 11, da NASA, a missão indiana Chandrayaan-2 foi lançada com sucesso rumo ao polo sul do satélite natural da Terra.
Mas há motivos o suficiente para que a atenção dos cientistas também se volte a vizinhos bem menores e, convenhamos, mais traiçoeiros: os asteroides.
É verdade que para muitos parece mais fascinante explorar a Lua, ou algum planeta como Marte — ambição que Elon Musk pretende realizar daqui a alguns anos, e a NASA também, claro. Mas olhar para os asteroides e enviar missões para explorá-los pode resultar em descobertas igualmente fascinantes — haja vista as missões OSIRIS-REx, da NASA, que explora o asteroide Bennu, ou a japonesa Hayabusa-2, que recentemente abriu uma cratera no asteroide Ryugu para coletar amostras e trazê-las à Terra.
Para chamar a atenção a estes “pequenos” corpos rochosos, Dimitri Veras, cientista da Universidade de Warwick, e James Blake, pesquisador da mesma instituição, listaram cinco motivos para que asteroides recebam o devido reconhecimento também do grande público.
Eles podem nos matar
Embora as possibilidades de um meteoro cair sobre nossas cabeças pareçam improváveis, e até motivo de piadas para muitos, lembremos que os dinossauros foram extintos graças a uma cadeia de eventos gerada por um incidente como este. Se parece um perigo perdido em um passado muito distante, podemos nos lembrar de Chelyabinsk.
Em fevereiro de 2013, um meteoro caiu sobre os Montes Urais da Rússia em Chelyabinsk, e causou uma explosão que feriu 1.100 pessoas. Ele pesava cerca de 10 toneladas e tinha cerca de 14 metros de largura. O meteoro entrou na atmosfera terrestre a uma velocidade de pelo menos 53 mil quilômetros por hora. O mais preocupante nesse incidente é que ninguém viu o asteroide chegar. Fomos pegos de surpresa. E se o mesmo acontecer novamente em uma área urbana? Uma grande cidade? E se fosse só um pouco maior e mais pesado?
Por isso, dar a devida atenção ao estudo de asteroides é, literalmente, vital para o planeta Terra.
Eles podem conter água
Existem estudos que levantam a hipótese de que a água chegou à Terra através de cometas e meteoros, há bilhões de anos. A ideia não é nem um pouco absurda, se lembrarmos que a missão Dawn, da NASA, revelou que o maior asteróide conhecido, Ceres, é repleto de água congelada.
Se um asteroide grande o suficiente puder carregar água e se chocar com outros planetas, é possível que um processo semelhante ocorra em outro lugar.
Eles podem revelar segredos antigos do Sistema Solar
As superfícies dos asteroides não se desgastam, porque eles não têm atmosfera. Por isso, as crateras desses corpos estão melhor preservadas em grandes escalas de tempo e carregam em si os impactos e marcas dos últimos bilhões de anos. Os asteroides podem servir como “túneis do tempo” na busca de evidências e rastros deixados há muito, muito tempo.
Asteroides passearam pelo universo durante todo esse tempo, mudaram de posições, sofreram impactos e colisões, e ainda assim pouca coisa é alterada em suas superfícies.
Eles podem revelar como o Sistema Solar vai “morrer”
Um dia, daqui a alguns bilhões de anos, o Sol provavelmente se transformará em uma anã branca, o estágio final da maioria das estrelas da Via Láctea, e engolirá Mercúrio, Vênus e a Terra, possivelmente Marte, também, no processo de expansão. Mas pelo menos cinco dos planetas do sistema solar, e muitos asteroides, poderão sobreviver.
Os asteroides, então, desempenham um papel importante nesse ciclo, pois eles são “chutados” em direção à anã branca pelo campo gravitacional dos planetas restantes. Acontece que os restos de asteroides partidos dentro das atmosferas de outras anãs brancas que conhecemos já são observados pelos pesquisadores.
Isso permite determinar a composição química dos asteroides, em uma espécie de “autópsia” à distância. Essa técnica é uma forma de investigar a composição química de sistemas planetários além do nosso.
Da mesma forma, os asteroides do nosso Sistema Solar podem fornecer os melhores meios para que futuras civilizações possam explorar os corpos planetários que orbitam o Sol, muito depois que a Terra for engolida.
Eles podem transportar vida
Um impacto suficientemente grande de um asteroide em um planeta poderia gerar energia suficiente para “lançar” material da superfície para o espaço. Se o planeta em questão for habitado por formas de vida, parte do material lançado pode ser um transporte acidental de microrganismos resistentes. Se esses microrganismos sobreviverem ao ambiente inóspito do espaço, há chances de que eles encontrem um novo planeta habitável como destino final.
Claro, as possibilidades são pequenas, mas não inexistentes. Também é uma jornada difícil, que levaria muito tempo. Para uma forma de vida se desenvolver em um novo planeta dessa forma, ela deve resistir às mais complexas provações durante a jornada e ao chegar a seu destino ainda vivas. Precisará sobreviver à entrada no planeta, ao impacto na superfície e se adaptar às condições do lugar.
Ainda é cedo para afirmar o quão grandes ou pequenas são essas possibilidades. E é justamente por isso que pesquisas e missões em asteroides podem ser tão relevantes e necessárias para entender o universo e, talvez, encontrar novas formas de vida — ou ao menos entender como foi que a vida chegou ao nosso planeta.
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