Historiadores confirmam que Alfred Bauer, fundador do Festival Internacional de Cinema de Berlim, teve papel de destaque na implementação da política de propaganda do regime de Adolf Hitler.
O fundador e primeiro diretor do Festival Internacional de Cinema de Berlim, Berlinale, teve um papel mais significativo no regime nazista do que se pensava, e mais tarde tentou ocultar suas ações, de acordo com um novo estudo divulgado nesta quarta-feira (30/09).
Alfred Bauer (1911-1986) fundou o Festival de Cinema de Berlim, hoje um dos mais destacados da Europa, ao lado de Cannes e Veneza, e dirigiu o evento entre 1951 e 1976.
Em janeiro, a Berlinale cancelou um prêmio que levava o nome de Bauer, concedido desde 1987, após o jornal alemão Die Zeit noticiar que o ex-diretor desempenhara um papel fundamental na execução da política nazista na indústria cinematográfica alemã. O festival, então, encomendou um estudo ao Instituto de História Contemporânea de Munique.
“Alfred Bauer deu uma contribuição significativa para o funcionamento do sistema cinematográfico alemão durante a ditadura nazista e, portanto, para a estabilização e legitimação do regime nazista”, concluiu o estudo.
A cooperação de Bauer para o nazismo começou em 1942, com seu trabalho no Reichsfilmintendanz, informa um resumo do relatório divulgado pela Berlinale. A referência é ao órgão criado pelo Ministro da Propaganda nazista, Joseph Goebbels, que tinha função de controlar a produção de filmes sob o regime do Terceiro Reich.
A pesquisa também mostrou que Bauer havia ingressado em várias organizações nazistas antes da eclosão da Segunda Guerra Mundial. Segundo o resumo, “os arquivos vistos até agora só permitem declarações limitadas sobre a competência de tomada de decisão” e a “margem de manobra criativa” de Bauer.
“Bauer sistematicamente encobriu esse papel depois de 1945″, prossegue o relatório. Após a derrota da Alemanha na guerra, Bauer retratava a si mesmo como um “oponente convicto e ativo” do regime. Essas ações “revelam o oportunismo ambicioso e quase inescrupuloso de Bauer”, atesta o documento, “o que também pode ter influenciado sua proximidade com o regime nazista”.
A atual diretora da Berlinale, Mariette Rissenbeen, considerou chocantes as revelações sobre o papel de Bauer, e “as novas descobertas também mudam a forma como vemos os anos de fundação da Berlinale”.
Após sua morte em 1986, o festival instituiu o Prêmio Alfred Bauer, como reconhecimento a “um longa-metragem que abra novas perspectivas no campo da arte cinematográfica”.
Ele era concedido ao lado da série de Ursos de Prata, que inclui, entre outros, o de melhor ator e diretor, e do Urso de Ouro, concedido ao melhor filme. Em agosto, o festival anunciou que, no lugar do Prêmio Alfred Bauer, foi instituído o Urso de Prata do Júri.
A notícia foi divulgada juntamente com o anúncio de que, a partir de 2021, os prêmios de atuação da Berlinale se tornarão neutros em termos de gênero, sendo atribuídos aos melhores desempenhos principais e secundários, e não ao melhor ator e atriz.