Brasileiro descobre remédio barato que cura Zika e evita transmissão das mães para os bebês

A equipe de um biólogo brasileiro descobriu que um remédio barato, usado contra a malária há 60 anos, impede camundongos de passarem o Zika para seus filhotes na gestação. E o truque pode dar certo no ser humano.

O grupo de cientistas liderado pelo brasileiro Alysson Muotri, da Universidade da Califórnia, descobriu uma droga que pode tanto impedir a infecção pelo vírus Zika quanto evitar que ele seja transmitido para o feto em gestantes que já estão doentes, causando microcefalia.

Os testes com células e camundongos deram certo e a solução tem potencial para funcionar também no ser humano. Os resultados saíram num artigo científico, publicado na Scientific Reports, no fim do ano passado.

A cloroquina, como é chamada, ficou famosa ao ser adicionada ao sal de cozinha da população da Amazônia na década de 1950 para combater um surto de malária. Seu truque é alterar o Ph (isto é, o grau de acidez) das células de forma que elas se tornem inóspitas para certos vírus.

Segundo os cientistas, não é comum usar medicamentos que originalmente tinham outras aplicações para combater doenças novas, mas neste caso deu certo.

Os pesquisadores fizeram testes in vitro com sucesso, usando colônias de neurônios cultivadas especialmente para esse tipo de experimento. Depois passaram para os camundongos, que também reagiram bem ao medicamento.

Fêmeas grávidas tratadas com cloroquina se tornaram imunes à doença, e tiverem filhotes saudáveis mesmo após serem expostas ao vírus. “O Zika pertence a um grupo de vírus, os flavivírus, que são muito resistentes a vacinas”, explica Muotri.

“Demora muito tempo para desenvolver métodos profiláticos contra eles. Nós precisávamos de uma solução mais rápida. A cloroquina é um remédio já conhecido e barato, que não tem patente. Se houver outro surto de Zika no próximo verão, é possível usá-la para proteger a população”, acrescenta.

Essa já é a terceira investida da equipe de Muotri contra o Zika. A epidemia eclodiu em abril de 2015 e, alguns meses, depois foram registrados os primeiros casos de microcefalia no interior do Ceará.

A mídia, desde o início, deu como certa a associação entre a infecção das grávidas pelo vírus e o nascimento de bebês com problemas congênitos. Mas a afirmação, na época, não tinha base científica rigorosa. Mas se baseava unicamente numa correlação epidemiológica: como os filhos com problemas nasciam de gestantes com Zika, era muito provável que a culpa fosse da doença.

Um grupo internacional de cientistas, que incluía o de Muotri, foi o primeiro a infectar uma camundongo fêmea com a versão brasileira do vírus – e confirmar que seus filhotes nasciam com problemas similares aos dos bebês humanos com microcefalia.

“Hoje nós sabemos que o Zika, quando veio da África, sofreu mutações. Essas mutações fazem com que ele se replique com muito mais facilidade em células humanas. Ainda resta descobrir quais pressões evolutivas tornaram a população do nordeste do Brasil mais suscetível à doença”, diz o pesquisador.

A descoberta

Após a primeira vitória, a equipe se dedicou a descobrir qual tática o vírus adota para infectar o cérebro do feto. Não é uma tarefa fácil: primeiro é preciso passar pela placenta, uma barreira bastante seletiva.

Depois, é necessário cruzar as meninges, três membranas protetoras que envolvem o cérebro. Poucos parasitas são capazes de fazer as duas coisas.

Foi a segunda vitória nacional. Os pesquisadores descobriram que o Zika, em estado dormente, se infiltra e pega carona nos macrófagos, células do sistema imunológico da mãe que têm acesso ao corpo do bebê.

Superada essa barreira, o próximo passo do vírus é chegar ao cérebro da criança ainda nos primeiros estágios do desenvolvimento, antes que as meninges sejam capazes de impedi-lo. Quando a porta é fechada, ele já está lá dentro – um método apelidado por Muotri de “Cavalo de Troia”.

Os três artigos provam que o Brasil está adiantado nas pesquisas sobre o vírus. “No ranking de pesquisas sobre o Zika, acredito que o Brasil esteja em segundo lugar. Só os EUA publicaram mais”, comenta Muotri.

“Nós estamos muito bem, e muito disso é crédito da colaboração internacional. Os brasileiros conseguiram buscar apoio de cientistas no exterior para fazer a coisa andar mais rápido. Vitória da ciência”, comemora o cientista.

Entretanto, é válido citar que ninguém deve tomar remédios sem prescrição médica. O uso de cloroquina no combate ao vírus ainda está em fase experimental e, se vier a ser aprovado, deverá ter a supervisão de um profissional de saúde.

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