Churchill tentou esconder telegramas nazistas que queriam Eduardo VIII de volta ao trono

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O carismático Winston Churchill poderia ter sofrido de Síndrome de Napoleão

Winston Churchill é uma personalidade incontornável da História mundial. Foi primeiro ministro britânico por duas vezes e ficou famoso principalmente pela sua atuação durante a Segunda Guerra Mundial.

Em uma busca constante pela paz, Winston Churchill apelidou a Segunda Guerra Mundial de “a guerra desnecessária” e defendeu a ideia de que os países europeus deveriam ter impedido a Alemanha de recompor as forças armadas antes da guerra, com o objetivo de evitá-la.

Durante todo o período da Segunda Grande Guerra – de 1940 a 1945 – Churchill assumiu o poder britânico – pela primeira vez, já que estaria no poder novamente entre 1951 e 1955. O político acreditava que a entrada dos Estados Unidos na guerra seria fator essencial e decisivo para a derrota da Alemanha nazi que imperava na altura.

Por isso, travou longa amizade com Franklin Roosevelt, presidente dos EUA, com quem negociou a Carta do Atlântico em 1941, que acabou por servir de inspiração e base à Carta da Nações Unidas.

Agora, documentos revelados pelos arquivos nacionais britânicos mostram que a amizade entre Churchill e Roosevelt não se construiu apenas para luta contra a Alemanha, mas também para apagar do conhecimento público quaisquer telegramas atestando uma conspiração nazista para devolver ao antigo rei Eduardo VIII o trono a que renunciara para se casar com a norte americana Wallis Simpson.

Durante a Segunda Guerra, o Duque de Windsor – um título criado exclusivamente para Eduardo – serviu na missão militar britânica na França. No entanto, depois de acusações de que o ex-monarca teria “simpatia” pelo regime nazista, foi nomeado governador das Bahamas, nos EUA, tendo se mudado para lá.

A conspiração sobre os telegramas, com mais de 70 anos, passava no entanto por Portugal. Os telegramas demonstram que os alemães planejavam raptar o duque de Windsor e sua mulher na passagem pela Espanha, quando o casal se dirigia para Lisboa depois de já ter deixado a França.

A revelação dos telegramas teria grande impacto na reputação do duque de Windsor, agravado pelo fato do também duque de Windsor já ter a sua imagem fragilizada, já que não escondia os ressentimentos que tinha em relação à casa real britânica nem suas opiniões políticas sobre Winston Churchill.

As suspeitas de que simpatizava com o regime nazista, reforçadas pela sua visita à Alemanha com Wallis em 1937, em que foram recebidos pelo próprio Adolf Hitler, aliadas à célebre ocasião em que defendeu publicamente que, como ele era o rei, a guerra não teria começado, faziam dele uma figura incômoda para a Grã Bretanha.

Telegramas

Os duques ficaram em Lisboa, capital de um país oficialmente neutro, quase durante um mês em 1940, antes de um navio de guerra os levar para as Bahamas. Para Eduardo, o cargo de governador era visto como um “exílio”, mas Churchill achava adequado para afastá-lo da Europa e, assim, de hipotéticas tentativas de aproximação do Reich.

Segundo os documentos do gabinete do primeiro ministro divulgados nesta quinta feira (20) pelos Arquivos Nacionais do Reino Unido, Churchill pediu ao presidente norte-americano Dwight Eisenhower e ao governo francês que impedissem a publicação de quaisquer telegramas envolvendo o plano de Berlim por “dez ou 20 anos, pelo menos”.

Segundo o The Guardian, Churchill justificou o pedido com o fato de os telegramas em causa, que ofereciam o trono ao duque caso as tropas do Eixo viessem a ocupar a Grã-Bretanha, serem “tendenciosos e pouco fiáveis”, podendo dar a ideia, errada, de que Eduardo estava “em contato com agentes alemães e dava ouvidos a propostas desleais”.

Apesar dos esforços do então primeiro ministro britânico, os telegramas, trocados entre Joachim von Ribbentrop, ministro dos Negócios Estrangeiros de Hitler, e os seus embaixadores em Madrid e Lisboa, foram tornados públicos em 1957, levando Eduardo a classificar os conteúdos como “falsidades completas”.

Em um deles, enviado para Lisboa no dia 11 de julho de 1953, o ministro diz ao seu embaixador que o duque precisava de ser informado, na Espanha e a seu tempo, de que a Alemanha deseja a paz com o povo britânico, e de que a facção que apoia Churchill era um obstáculo.

O documento continua, garantindo que a Alemanha estava determinada a forçar a Inglaterra a aceitar a paz “através do uso de todos os métodos” e que estaria pronta, no caso de isso acontecer, para realizar qualquer desejo do duque, como o do regresso ao trono, com a duquesa a seu lado.

O príncipe foi informado de que, segundo a Constituição britânica, depois de abdicar, jamais poderia voltar a ser rei, mas mais tarde foi confrontado por um agente espanhol (Espanha apoiava a Alemanha) com a possibilidade de o desenrolar da guerra vir a produzir alterações na lei.

“Totalmente injustas” para o duque de Windsor

Churchill foi obrigado a pedir a Eisenhower que mantivesse os telegramas secretos quando foi informado, em 1953, de que cópias tinham sido encontradas nos arquivos alemães e de que o Departamento de Estado americano ponderava incluí-las na sua versão oficial da Segunda Guerra Mundial, para a qual contribuiria o ambicioso programa acadêmico montado pelos Aliados para revelar documentos nazistas fundamentais.

Foi no âmbito deste programa a cargo de vários historiadores que os telegramas acabariam divulgados, quatro anos mais tarde.

O presidente, que provavelmente quis tranquilizar seu forte aliado, respondeu a Churchill, em 2 de julho de 1953, garantindo que a interpretação que os serviços secretos de Washington faziam dos referidos telegramas não era diferente da do primeiro ministro. Eisenhower acreditava também que aquelas comunicações se destinavam a “fragilizar a resistência ocidental” e eram “totalmente injustas” para o duque de Windsor.

Ainda que compreendesse o pedido de Churchill, Eisenhower não fez qualquer promessa de secretismo, alegando que os historiadores envolvidos no tratamento dos arquivos alemães podiam discordar que ocultassem as comunicações entre o ministro do Reich e seus embaixadores.

Nos telegramas, assim como nos documentos do gabinete do primeiro ministro, nada indica que Eduardo estivesse ciente da conspiração nazista e muito menos que fosse conivente com ela.

Os documentos publicados agora mostram ainda que o irmão de Eduardo, o rei Jorge VI, que morreu em fevereiro de 1952, insistiu para que o duque fosse informado do seu conteúdo caso os esforços para impedir a divulgação dos telegramas falhassem.

// ZAP

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