Pesquisadores italianos do Museu Ludum, na Sicília, conseguiram decifrar a carta escrita por uma freira italiana do século XVII no momento em que ela estava “possuída pelo demônio”. A carta foi decifrada com a ajuda de um algoritmo encontrado na Deep Web.
Em 11 de agosto de 1676 a Irmã Maria Crocifissa della Concezione é encontrada sentada no chão do mosteiro de claustro de Palma di Montechiaro, onde habitava.
Meia cara manchada de tinta preta, a respiração perturbada, a pena de escrever nos joelhos, uma folha entre as mãos escrita em um alfabeto incompreensível. É este o cenário deixado pelo “Diabo”.
Ou pelo menos assim se acreditava, até que cientistas descobriram, por fim, o que significa a “Carta do Diabo” que data do século XVII. A própria freira diz que tem em mãos uma carta ditada por Satanás pessoalmente, no fim de uma luta extenuante com um grupo de demônios, afirma o La Stampa.
Foi assim que começou um dos maiores mistérios. Escritores apaixonados como Tomasi de Lampedusa e Andrea Camilleri abriram um concurso, nos anos 60, prometendo uma estadia de um mês em Agrigentoa para quem traduzisse a carta.
No entanto, só agora foi revelado o mistério do texto. Um grupo de físicos e cientistas da informática decifraram o mistério, usando um programa de decodificação retirado da Deep Web, o grande mar escondido da rede, que não está no Google porque não quer ser pesquisado.
“Há muita coisa na Deep Web”, diz Daniele Abate, líder da equipe.
“Droga, prostituição, pedofilia e programas inteligentes para decifrar mensagens secretas como a que estamos usando. Algoritmos que tentam decifrar, identificando caracteres semelhantes que são repetidos. Uma tentativa, é bom esclarecer isso, mas uma tentativa cujos resultados nos surpreenderam”, explica.
As onze linhas, que à primeira vista misturam um pouco do clássico grego e um pouco alfabeto cirílico, dizem na verdade algo. Não é inteiramente consistente, nem compreensível, mas certamente dizem algo relacionado com Deus e Belzebu.
“Talvez agora o rio Estige exista“, escreveu a freira supostamente ditada pelo diabo, referindo-se ao rio Estige que, de acordo com a mitologia grega, separa a Terra do mundo dos mortos, Hades.
Mas como se traduz a língua do diabo?
“Nós incluímos o alfabeto grego, o latino, o rúnico (das antigas populações germânicas) e o alfabeto yazidi, e todos os alfabetos que a Irmã Maria Crocifissa pudesse ter visto ou conhecido”, afirma Daniele.
O algoritmo começa identificando os mesmos caracteres e, em seguida, compara-os com os caracteres alfabéticos mais parecidos nos diferentes idiomas. “O que estamos descobrindo é que este é um alfabeto preciso, inventado pela freira com muito cuidado misturando símbolos que ela conhecia”, disse a pesquisadora.
Cada símbolo é bem pensado e estruturado, há sinais que são repetidos, talvez uma iniciativa deliberada ou talvez inconsciente. O estresse da vida monacal era muito forte, a mulher poderia ter sofrido de um transtorno bipolar, na época não havia remédios ou diagnósticos psiquiátricos.
Para a igreja na época, no entanto, a carta é o resultado da luta contra uma pilha de “inumeráveis espíritos malignos” que decidiram usar a Irmã Maria Crocifissa – então abençoada – como “miseráveis juncos” para uma mensagem precisa: dizer a Deus que deixasse os mortais entregues aos pecados e parar de dar “Misericórdia e Piedade”.
Para não retirá-los dos braços de Lúcifer, em suma.
Segundo a história da freira, os demônios seriam obrigados a assinar a carta. Como a freira teria se recusado a deixá-los assinar, a ameaçaram com o tinteiro – por isso o rosto da mulher estava manchado com tinta.
Essas 11 linhas misteriosas (mantidas no mosteiro de Palma de Montechiaro, e uma cópia nos Arquivos da Catedral de Agrigento) são tudo o que resta da “luta com Belzebu”. Havia mais duas mensagens de demônios, mas a freira não as escreveu e levou-as consigo para o túmulo.
“Não me pergunte isso por favor. Eu não posso mesmo dizer isso, nem tenho que dizer isso. Chegará a hora de você ouvir e ver”, disse às irmãs.
Os cientistas advertiram que a mensagem incongruente não está completa, o que reforça a teoria de que a freira “sofria de esquizofrenia“, podendo ter sido ela mesma quem escreveu a carta, sem a “ajuda” do diabo.
Ciberia // ZAP