Um grupo de pesquisadores franceses resolveu testar os critérios de revisão da revista Asian Journal of Medicine and Health ao enviar um artigo sobre a eficiência da hidroxicloroquina na diminuição de acidentes de patinete.
Publicado no veículo no último dia 15 de agosto, poucas semanas após a OMS suspender todos os testes com a substância no combate ao coronavírus, o estudo cumpriu a missão de desmascarar periódicos acadêmicos com pouco ou nenhum rigor científico.
Com trechos que lembram a famosa receita de miojo presente no desenvolvimento de uma redação do ENEM de 2013, o artigo “Sars-Cov-2 was Unexpectedly Deadlier than Push-scooters: Could Hydroxychloroquine be the Unique Solution?” (“Sars-Cov-2 foi inesperadamente mais letal que patinetes: poderia a hidroxicloroquina ser a única solução?”, em tradução livre) inclui referências e conclusões absurdas e até rizíveis.
Como ressaltou o site “Olhar Digital“, a publicação incluiu, por exemplo, uma citação quase idêntica à uma do filme “Batman: O Cavaleiro das Trevas” (2008). “A hidroxicloroquina é a heroína que o mundo merece, mas não a que ele precisa neste momento. Então os detratores vão caçá-la. Porque a hidroxicloroquina pode aguentar. Porque não é nossa heroína. É nossa guardiã silenciosa, nossa protetora vigilante. Uma cavaleira das trevas”, escreveram os autores.
Escolhida por ter aceito o artigo da endocrinologista e ginecologista Violaine Guérin — quem escreveu um estudo falho (e amplamente negado por respeitados periódicos científicos) para exaltar a hidroxicloroquina no tratamento da COVID-19 —, a Asian Journal of Medicine and Health deixou passar falhas gravíssimas de metodologia no artigo dos patinetes.
Segundo a “Rádio França Internacional“, a revista é conhecida no meio por publicar estudos mediante pagamento, sem priorizar revisões sérias, feitas a partir de critérios científicos.
Indignados com o alcance da publicação do artigo falacioso de Guérin, um grupo de jovens pesquisadores resolveu se unir para escrever um novo estudo irônico e, assim, testar a revista. Com o intuito de tornar o artigo o mais caricato possível, os cientistas espalharam pistas da falsidade das informações durante todo o texto.
Além da relação ridícula entre o uso da hidroxicloroquina e da azitromicina com a redução de acidentes de patinete em Marselha — cidade francesa escolhida pelo grupo por ser a moradia do professor Didier Raoult, cientista que iniciou o movimento a favor da hidroxicloroquina no tratamento do coronavírus —, os jovens deram créditos a um suposto autor chamado Manis Javanica, que, na verdade corresponde ao nome científico do pangolim, animal que teria iniciado o ciclo de contágio do vírus.
Ainda entre os autores, consta Nemo Macron, que é o nome do animal de estimação do presidente da França, Emmanuel Macron, de 42 anos.
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