Congresso aponta excessos em novo decreto de armas

Fernando Frazão / Agencia Brasil

Jair Bolsonaro

Pareceres formulados por consultores da Câmara dos Deputados e do Senado, divulgados nesta sexta-feira (10/05), revelaram excessos no decreto assinado pelo presidente Jair Bolsonaro que facilita o porte de armas e afirmaram que a mudança ignorou a atual legislação.

O parecer da Câmara diz que a alteração é ilegal. Segundo os consultores da Casa, por contrariar dispositivos previstos em lei, a mudança não pode ser realizada com um decreto. O documento destaca que houve uma violação do Estatuto do Desarmamento, que estabelece as normas para o porte de armas no país. O texto questiona principalmente a ampliação do porte de armas para 20 categorias.

“A lei é clara no sentido de que deve haver a demonstração efetiva da necessidade do porte, devendo cada caso concreto ser analisado pelo órgão competente”, destaca o texto. O documento questiona também a concessão sem validade de tempo do porte de armas.

O decreto assinado por Bolsonaro na terça-feira facilita o porte de armas para 20 categorias, indo de políticos com mandatos eletivos, passando por advogados, caminheiros e até jornalistas que atuem em coberturas policiais.

O texto também expandiu substancialmente o limite anual de compra de cartuchos por proprietários de armas de fogo (de 50 para 1.000 ou 5.000, dependendo da classificação da arma) e facilitou a importação de armas de fogo.

Atualmente, cidadãos comuns podem requerer o porte em casos excepcionais, com a comprovação de uma justificativa plausível para a Polícia Federal, como ameaça à integridade física. Cabia ao órgão aceitar ou negar o pedido de acordo com uma avaliação.

Agora, o decreto prevê que a PF só poderá negar o pedido com “comprovação documental de que não são verdadeiros os fatos” apresentados pelo requerente ou se ele não se enquadrar em outros requisitos, como a idade mínima.

O parecer do Senado também indica que o decreto ignorou a legislação e afirma que, ao editar a norma, o presidente “extrapolou o poder regulamentar”. Assim como na Câmara, os analistas da Casa consideram principalmente problemática a ampliação automática do porte de armas para 20 categorias.

“O Estatuto do Desarmamento exige um exame individualizado, pela Polícia Federal, do pleiteante à autorização de arma de fogo de uso permitido. Se não fosse assim, o decreto poderia contemplar qualquer pessoa, entidade ou categoria, presumindo, de forma absoluta, que ela necessitaria do porte de arma de fogo para o exercício da sua atividade profissional ou para a defesa da sua integridade física”, ressalta o parecer.

O decreto de Bolsonaro foi questionado pelo Supremo Tribunal Federal (STF). A ministra Rosa Weber pediu nesta sexta-feira explicações ao governo sobre a mudança e deu cinco dias de prazo para receber uma resposta.

O partido Rede Sustentabilidade entrou com uma ação junto ao STF pedindo a anulação do decreto. O partido argumenta que a alteração feriu o princípio de separação de poderes e, por isso, é inconstitucional. Mudanças na legislação devem ser discutidas e aprovadas pelo Congresso. Antes de decidir sobre a anulação do decreto, a relatora do pedido, ministra Rosa Weber, solicitou explicações do governo e também pediu informações do ministro da Justiça e Segurança Pública, Sergio Moro.

Segundo uma reportagem do UOL, o decreto foi anunciado antes de uma análise do Ministério da Justiça. A pasta teria tido menos de 24 horas para avaliar a mudança e em seu parecer destacou que seria impossível fazer uma análise pertinente da questão. É de praxe que o governo solicite pareceres técnicos e jurídicos aos ministérios envolvidos sobre propostas que pretende apresentar.

Depois da assinatura da alteração, Moro chegou a dizer, durante uma audiência pública na Câmara na quarta-feira, que o decreto não era parte de uma política de segurança pública e mencionou divergência entre ele e Bolsonaro sobre a questão. “Não tem a ver com segurança pública. Foi uma decisão tomada pelo presidente em atendimento ao resultado das eleições”, destacou o ministro.

Depois do pedido de explicação do STF, Bolsonaro afirmou que está agindo dentro da lei, mas que a palavra final será do Congresso ou da Justiça. “Teremos um bom embate no tocante a isso, pode ter certeza. Não estamos fazendo nada mais do que o povo quis em 2005. E estamos dentro do limite da lei. Se for inconstitucional, tem que deixar de existir”, disse. Em janeiro, Bolsonaro já havia assinado um decreto para flexibilizar a posse de armas de fogo no país.

// DW

COMPARTILHAR

DEIXE UM COMENTÁRIO:

Como é feito o café descafeinado? A bebida é realmente livre de cafeína?

O café é uma das bebidas mais populares do mundo, e seus altos níveis de cafeína estão entre os principais motivos. É um estimulante natural e muito popular que dá energia. No entanto, algumas pessoas preferem …

“Carros elétricos não são a solução para a transição energética”, diz pesquisador

Peter Norton, autor do livro “Autonorama”, questiona marketing das montadoras e a idealização da tecnologia. Em viagem ao Brasil para o lançamento de seu livro “Autonorama: uma história sobre carros inteligentes, ilusões tecnológicas e outras trapaças …

Método baseado em imagens de satélite se mostra eficaz no mapeamento de áreas agrícolas

Modelo criado no Inpe usa dados da missão Sentinel-2 – par de satélites lançado pela Agência Espacial Europeia para o monitoramento da vegetação, solos e áreas costeiras. Resultados da pesquisa podem subsidiar políticas agroambientais Usadas frequentemente …

Como o Brasil ajudou a criar o Estado de Israel

Ao presidir sessão da Assembleia Geral da ONU que culminou no acordo pela partilha da Palestina em dois Estados, Oswaldo Aranha precisou usar experiência política para aprovar resolução. O Brasil teve um importante papel no episódio …

O que são os 'círculos de fadas', formações em zonas áridas que ainda intrigam cientistas

Os membros da tribo himba, da Namíbia, contam há várias gerações que a forte respiração de um dragão deixou marcas sobre a terra. São marcas semicirculares, onde a vegetação nunca mais cresceu. Ficou apenas a terra …

Mosquitos modificados podem reduzir casos de dengue

Mosquitos infectados com a bactéria Wolbachia podem estar associados a uma queda de 97% nas infecções de dengue em três cidade do vale de Aburra, na Colômbia, segundo o resultado de um estudo realizado pelo …

Chile, passado e presente, ainda deve às vítimas de violações de direitos humanos

50 anos após a ditadura chilena, ainda há questões de direitos humanos pendentes. No último 11 de setembro, durante a véspera do 50° aniversário do golpe de estado contra o presidente socialista Salvador Allende, milhares de …

Astrônomos da NASA revelam caraterísticas curiosas de sistema de exoplanetas

Os dados da missão do telescópio espacial Kepler continuam desvendando mistérios espaciais, com sete exoplanetas de um sistema estelar tendo órbitas diferentes dos que giram em torno do Sol. Cientistas identificaram sete planetas, todos eles suportando …

Em tempos de guerra, como lidar com o luto coletivo

As dores das guerras e de tantas tragédias chegam pelas TV, pelas janelinhas dos celulares, pela conversa do grupo, pelos gritos ou pelo silêncio diante do que é difícil assimilar e traduzir. Complicado de falar …

Pesquisa do Google pode resolver problemas complexos de matemática

O Google anunciou uma série de novidades para melhorar o uso educativo da busca por estudantes e professores. A ferramenta de pesquisa agora tem recursos nativos para resolver problemas mais complexos de matemática e física, inclusive …