Uma criança sul-africana, de nove anos, que nasceu com HIV viveu de forma saudável durante quase nove anos sem medicamentos, tendo apenas sido submetida a um tratamento durante seus primeiros meses de vida, segundo um estudo divulgado nesta segunda-feira (24).
Trata-se do terceiro caso de remissão do HIV sem tratamento com medicamentos que é observado em uma criança, destaca o estudo que foi apresentado na conferência internacional sobre pesquisa em HIV/Aids que ocorre em Paris, pela médica Avy Violari.
“Isto vem reforçar as esperanças de um dia libertar crianças soropositivas do fardo de um tratamento ao longo da vida, tratando-as por um curto período nos primeiros meses de vida”, diz Anthony Fauci, diretor do Instituto norte-americano de Doenças Infecciosas.
O pesquisador ressalva que é sempre possível haver uma recaída, como em qualquer remissão. “Mas o fato de esta remissão ser verificada por um longo período sugere que pode ser sustentável”, indicou ainda, citado pela agência France Presse.
A garota sul-africana foi submetida a partir dos dois meses a tratamentos antirretrovirais, o que dificultou o desenvolvimento do vírus da Aids. Quarenta semanas depois, o tratamento foi interrompido deliberadamente no âmbito do estudo, verificando-se que o vírus tinha sido reduzido a uma carga indetectável.
Oito anos e nove meses depois, o vírus do HIV permanece com carga indetectável mesmo não tendo se submetido a mais tratamentos.
Segundo o Observador, a criança sul-africana fez parte de um estudo realizado entre 2005 e 2011, que envolveu 370 crianças infectadas com HIV.
Foram divididas em três grupos: umas receberam um tratamento antirretroviral logo após o nascimento e durante 40 semanas; outros durante 96 semanas; e o terceiro grupo não foi submetido de imediato ao tratamento, mas foi recebendo-o ao longo do tempo – como se fazia na época em que se iniciou o estudo.
O estudo comprovou que, no caso das crianças que foram submetidas ao tratamento logo após o nascimento, a taxa de mortalidade diminuiu em 76% e a progressão da doença diminuiu 75%. Mas só nesta criança sul-africana é que o vírus não foi detectado.
“Isto é mesmo muito raro. Ao estudar estes casos, esperamos conseguir compreender como é que podemos parar o tratamento”, afirmou Violari, citada pela CNN, acrescentando que há algo “único” a nível biológico e no sistema imunitário desta criança que ajudou a que o vírus ficasse em remissão.
Das outras duas crianças em todo o mundo a quem isto aconteceu, apenas uma continua com o vírus em remissão. É o caso de um francês, atualmente com 20 anos, cuja mãe tinha HIV. O jovem também recebeu um tratamento antirretroviral pouco tempo depois de nascer e parou quando tinha seis anos. Desde então, o vírus não é detectado através dos testes habituais.
Uma menina, nascida em 2010 no estado do Mississippi (EUA), recebeu o tratamento 30 horas depois de nascer até aos 18 meses de idade. Apesar de ter ficado em remissão durante mais de dois anos, o vírus voltou a ser detectado no sangue em 2015.
Uma situação que já aconteceu com adultos, mas todos ficaram com o vírus em remissão depois de receber transplantes de medula. Hoje em dia, apenas um, Timothy Ray Brown, continua com o vírus em remissão.
A equipe de Violari vai agora analisar esta e outras crianças que participaram do estudo para entender o que difere esta criança, a nível biológico, das restantes.
Segundo a Organização Mundial de Saúde (OMS), nas crianças infetadas com HIV antes do nascimento, a progressão da doença é muito rápida nos primeiros meses de vida e pode levar à morte. De acordo com a UNAIDS, o programa das Nações Unidas para o HIV/sida, em 2015 havia 1,8 milhões de crianças a viver com o vírus e 110 mil morreram de doenças relacionadas com o HIV.
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