Dirigentes do alto escalão americano, grandes empresários e chefes de Estado, como o brasileiro Jair Bolsonaro, prestigiam nesta segunda-feira (29) o “Davos do deserto”, um fórum econômico promovido pela Arábia Saudita.
O reino deseja recuperar o fracasso do evento de 2018, que foi boicotado pela comunidade internacional em decorrência do assassinato do jornalista opositor Jamal Khashoggi.
Cerca de 300 participantes de 30 países confirmaram presença na Iniciativa de Investimento Futuro (FII, na sigla em inglês), nome oficial do fórum, uma vitrine da Arabia Saudita enquanto economia dinâmica do Oriente Médio e aberta a investidores estrangeiros.
O conselheiro e genro do presidente americano, Jared Kushner, próximo do príncipe herdeiro saudita Mohammed Bin Salman, é uma das presenças ilustres do evento, assim como os secretários do Tesouro dos Estados Unidos, Steven Mnuchin, e da Energia, Rick Perry.
“Para os Estados Unidos, há dois pesos e duas medidas em relação à Arábia Saudita. Todo mundo sabe que o príncipe herdeiro Salman ordenou a execução de Khashoggi, mas não houve nenhuma sanção contra ele”, ressalta Ardavan Amir-Aslani, advogado especialista em negócios com o Oriente Médio, em entrevista à RFI.
“Isso acontece pura e simplesmente para atender à vontade de fazer negócios com os sauditas. Quando o premiê indiano afirma que vai comparecer, sabemos perfeitamente que é para evitar uma maior aproximação entre a Arábia Saudita e o Paquistão”, sublinha.
Direitos humanos de lado
Além de Bolsonaro, comparecem o primeiro-ministro da Índia, Narendra Modi, o rei da Jordânia, Abdallah II, e diversos presidentes africanos.
Os CEOs do Blackstone Group e do SoftBank Group, grandes firmas de investimentos, e os presidentes dos fundos soberanos do Kuwait, dos Emirados Árabes Unidos, de Cingapura e da Rússia também estarão presentes.
A agenda oficial divulgada pelo Planalto indica apenas dois compromissos de Bolsonaro: uma reunião com o presidente do grupo Goldman & Sachs, John Waldron, e o jantar oficial oferecido pelo reino aos chefes de Estado e de Governo.
“O FII deste ano é muito diferente do ano passado. As ameaças de sanções à Arábia Saudita pelas questões de direitos humanos passaram”, explica à AFP o analista Ryan Bohl, da consultoria americana Stratfor. “Muitos dirigentes não têm nenhum escrúpulo de se aproximar da Arábia Saudita neste ano.”
Em 2018, o fórum aconteceu pouco depois do assassinato chocante do jornalista Khashoggi, em pleno consulado saudita em Istambul. O crime provocou uma comoção mundial – o opositor foi decapitado e seu corpo, desmembrado.
// RFI