Ao invés de um deserto, a região do Saara há 95 milhões de anos era coberta por um enorme sistema hidrográfico que ia do Marrocos até a Argélia. Um estudo publicado no dia 21 de abril na revista ZooKeys aponta a pequena presença de animais herbívoros na região. Fósseis de dinossauros carnívoros, por outro lado, foram encontrados aos montes.
“Esse rio de gigantes é diferente de qualquer ecossistema atual, e na verdade ele é bastante único comparado com outros ecossistemas da época dos dinossauros”, explica Nizar Ibrahim, paleontólogo da Universidade de Detroit Mercy (EUA).
Ibrahim e seus colegas estudaram as formações rochosas Kem Kem no leste do Marrocos durante duas décadas de expedições, além da análise de acervo de fósseis em museus ao redor do mundo.
A região Kem Kem consiste de camadas de rochas sedimentares expostas em uma longa e sinuosa escarpa na fronteira entre Marrocos e Argélia. Os fósseis encontrados lá são bastante heterogêneos, incluindo anfíbios, plantinhas delicadas e dinossauros enormes como saurópodes e pterossauros com assas de cinco metros de envergadura.
Outros fósseis encontrados ali não são nada comuns. Um deles pertence a um grupo chamado abelisaurídeos, animais com focinho curto e dentes pequenos que sugerem que ele tenha sido um carniceiro. Outro é um espinossauro com focinho estreito e dentes especializados em capturar peixes. Havia também criaturas parecidas com os nossos crocodilos atuais, mas com o comprimento de um ônibus.
“Se você visitasse esse lugar como um humano, haveria muitas formas diferentes de morrer. Você não estaria seguro em lugar nenhum”, diz Ibrahim.
O objetivo dos pesquisadores nesta investigação foi reunir novas informações sobre a relação de coexistência entre predadores daquela região há 95 milhões de anos. Os crânios encontrados são bastante diversificados, o que sugere que eles tinham alimentações diferentes, sem competir pelo mesmo alimento. Em vários casos, esses alimentos eram frutos do mar gigantescos.
Os predadores atuais como lobos e leões existem em bem menor número que suas presas. No ambiente marinho, por outro lado, há muito mais predadores do que presas. Os pesquisadores acreditam que o ambiente no Período Cretáceo, quando o norte da África era coberto por sistemas hídricos, também havia mais predadores do que presas.
Esta dinâmica provavelmente acontecia porque a região alagada não suportava vegetação volumosa suficiente para alimentar grandes herbívoros.
“O Saara é um lugar de tirar o fôlego da forma que é, mas quando você está lá naquele lugar seco e inóspito e recolhe escamas de peixe gigantes e dentes de crocodilos, isso te dá uma sensação do que chamamos de tempo profundo”, diz ele. “É quando você realmente compreende o quanto o nosso planeta mudou e pode mudar através dos tempos”.
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