Diagnosticada em 2015 com uma doença degenerativa incurável, a escritora francesa Anne Bert morreu nesta segunda-feira (2) por eutanásia, na Bélgica, para onde tinha viajado propositadamente para se sujeitar ao suicídio assistido.
Anne Bert, conhecida pela escrita erótica, tinha transformado seu suicídio programado em uma batalha política, com vista a aprovar na França uma lei semelhante à que existe na Bélgica, um dos poucos países do mundo que permite a eutanásia.
Nesta segunda-feira, a escritora de 59 anos morreu em uma unidade de cuidados paliativos, na Bélgica, depois de receber uma injeção letal em um suicídio assistido.
A francesa sofria de Esclerose Lateral Amiotrófica (ELA), doença degenerativa incurável que afeta o cérebro e a medula espinhal, levando, gradualmente, à paralisação dos membros e do aparelho respiratório.
A escritora manifestou publicamente, por diversas vezes, o desejo de ter uma morte assistida, lamentando que a doença “canibal” que a afetava, como dizia, tinha já afetado os movimentos dos seus braços.
“Já não posso me alimentar ou deitar sozinha, às vezes não consigo engolir, vivo como um animal“, tinha desabafado em setembro.
Na mesma época, ela tinha anunciado que partiria para a Bélgica para morrer lá, aproveitando a lei da eutanásia do país e deixando muitas críticas à chamada “Lei Claeys-Leonetti”, sobre o fim da vida, que foi aprovada pelo Governo francês em 2015.
A lei francesa determina que os pacientes podem ser alvo de uma “sedação profunda e contínua”, para evitar o sofrimento até o fim da vida, mas apenas nos casos dos doentes terminais, não admitindo a administração de medicamentos que possam provocar diretamente a morte.
Anne Bert criticou a lei como “um engano gigantesco” criado só para lançar “pó para os olhos” dos doentes. Uma Lei que “responde mais às preocupações dos médicos do que aos direitos dos pacientes que desejam não chegar ao termo das suas doenças incuráveis ou aceitar sofrimentos insuportáveis”, lamentou em uma carta aberta enviada aos candidatos presidenciais das recentes eleições francesas.
“Adormecer um doente para deixá-lo morrer de fome e de sede é realmente mais respeitoso para com a vida do que por fim à ela com a administração de um produto letal?”, perguntava na mesma carta.
“Eu quero morrer em paz, antes de ser torturada, passar a fronteira para fugir do proibido”, escreve Anne Bert no livro que será publicado nesta quarta-feira (4), depois da morte, como estava previsto, segundo cita o Le Parisien, antecipando a obra.
Neste livro de despedida, a escritora também escreve que a decisão do suicídio assistido não se trata de coragem, mas de “uma escolha”. “A minha livre escolha. E é muito mais doce do que me foi prometido”, conclui Anne Bert.
Ciberia // ZAP