Sabe aquela dieta pouco saudável, recheada de hambúrgueres e doces? Ela pode te deixar literalmente mais burro em apenas uma semana. Pelo menos foi isso que um estudo da Universidade Macquarie em Sydney (Austrália) descobriu.
Além da dieta ocidental estar ligada à obesidade, diabetes, pressão alta, doenças cardiovasculares, câncer e outros problemas de saúde, ela pode prejudicar sutilmente a função cerebral e encorajar pessoas saudáveis a comer mais do que deveriam.
O que os pesquisadores chamaram de dieta ocidental (ou “dieta padrão ocidental”) é basicamente aquilo mesmo você está pensando: uma recheada de gordura, açúcar e sal, com abundância de carne vermelha e produtos processados como fast food, salsicha, bacon, comidas prontas etc.
Esse tipo de alimentação é diferente, digamos, de dietas como a mediterrânea, composta principalmente por frutas e vegetais frescos, peixe, grãos integrais, legumes e gorduras monoinsaturadas como azeite de oliva.
Para o estudo, os cientistas separaram cerca de 110 estudantes magros e saudáveis entre 20 e 23 anos em dois grupos: um se alimentou de uma dieta saudável, a mesma que já possuíam, enquanto o outro pode encher a cara de alimentos padrão ocidental, incluindo fast food e waffles, por sete dias.
No começo e no fim da semana, os participantes tomaram café da manhã no laboratório. Antes e depois de cada refeição, realizaram testes de memória e responderam questionários sobre quanto desejavam e gostavam dos alimentos que estavam comendo.
Os pesquisadores descobriram que quanto mais as pessoas do grupo da dieta ocidental achavam a comida saborosa quando já estavam cheias, pior se saíam no teste de memória, ligado à função do hipocampo no cérebro.
Em outras palavras, comer uma dieta rica em açúcar piora sua memória e faz você achar toda aquela porcaria cada vez mais desejável imediatamente após comê-la, o que pode te fazer comer em excesso.
“Depois de uma semana com uma dieta ao estilo ocidental, alimentos saborosos, como lanches e chocolate, se tornam mais desejáveis quando você está cheio. Isso torna mais difícil resistir a eles, levando você a comer mais, o que, por sua vez, gera mais danos ao hipocampo e um ciclo vicioso de comer demais”, explicou um dos autores do estudo, Richard Stevenson, professor de psicologia da Universidade Macquarie.
Estudos anteriores com animais já haviam sugerido que uma dieta pouco saudável podia prejudicar o hipocampo, uma região do cérebro envolvida com a memória e o apetite.
Os cientistas não sabem exatamente por que, mas uma hipótese é que o hipocampo normalmente bloqueia ou “enfraquece” memórias sobre alimentos quando já estamos cheios, para não comermos em excesso. Logo, após terminar uma fatia de bolo, você “esqueceria” quão delicioso ele é.
Só que isso não acontece – não quando a dieta é rica em açúcar e gorduras. “Quando o hipocampo funciona de forma menos eficiente, você recebe essa enxurrada de lembranças e, portanto, a comida é mais atraente”, afirma Stevenson.
Isso não é exatamente uma surpresa – condições como obesidade e diabetes já foram relacionadas com uma piora nas funções cognitivas, como declínio na função do cérebro e risco de desenvolver demência.
Então é isso, pessoal. Comer mal te deixa viciado em porcarias e meio burro. Os pesquisadores acham que os governos deveriam dificultar nosso acesso a esses alimentos, como fizeram com o cigarro, por exemplo, taxando-o com impostos e fazendo campanhas sobre seus males de saúde.
Sendo assim, é melhor já irmos “desintoxicando” – pode ser que aquele bolinho de baunilha fique muito caro e impossível de achar em qualquer lugar, e não queremos sofrer de abstinência, não é mesmo?
Um artigo sobre a pesquisa foi publicado na revista científica Royal Society Open Science.
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