O ex-soldado é acusado da morte de duas pessoas no Domingo Sangrento, quando militares britânicos abriram fogo contra uma marcha pacífica de militantes católicos.
Um antigo soldado britânico vai ser julgado pela morte de dois manifestantes civis em 1972, durante o chamado Bloody Sunday (Domingo Sangrento), em que 13 pessoas foram mortas em Derry, na Irlanda do Norte, por militares.
Quase meio século depois, a Procuradoria da Irlanda do Norte concluiu que existe material suficiente para processar um dos militares britânicos, que foi identificado como “soldado F”. Ele será acusado da morte de duas pessoas e tentativa de assassinato de outros quatro civis.
As provas sobre o envolvimento de outros 16 soldados britânicos e de dois antigos membros do IRA (Exército Republicano Irlandês) foram consideradas insuficientes. Antes do anúncio da procuradoria, familiares das vítimas marcharam em Derry, pedindo justiça.
É a primeira vez que se abre um processo judicial sobre o drama ocorrido em 30 de janeiro de 1972, durante o conflito conhecido como The Troubles, que afetou ao longo de três décadas a província britânica e opôs republicanos nacionalistas (católicos) — partidários da reunificação da Irlanda —, e unionistas (protestantes) – defensores da manutenção da autoridade da Coroa britânica.
Naquele dia, um domingo, soldados britânicos abriram fogo contra uma marcha pacífica de militantes nacionalistas em prol dos direitos civis no bairro católico de Bogside, em Derry, na Irlanda do Norte. Além das 13 pessoas que morreram no local, outras 15 ficaram feridas. Uma delas acabou por não resistir aos ferimentos e morreu meses depois.
Só em 2010 o governo britânico pediu desculpas pelos atos dos soldados britânicos, após uma investigação revelar que eles dispararam sem justificativa contra pessoas desarmadas e depois mentiram sobre isso durante décadas. A decisão desta quinta-feira é anunciada nove anos depois do fim do inquérito.
O conflito na Irlanda do Norte deixou mais de 3.500 mortos em três décadas. O acordo de paz de 1998 (Acordo da Sexta-Feira Santa) pôs fim definitivo ao conflito, prevendo, entre outros aspetos, a libertação de cerca de 500 paramilitares republicanos e unionistas e a abertura do inquérito, concluído em 2010.
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