O Facebook deu de ombros para o Congresso americano e disse na última quinta-feira que continuará com a atual política de anúncios na plataforma. Ou seja: as campanhas políticas que utilizam a rede social para direcionarem certas postagens – incluindo aquelas que geram desinformação (ou fake news, se você preferir) continuarão a fazer isso. Detalhe: o Facebook não se responsabilizará pela veracidade do conteúdo.
A decisão do Facebook vai de encontro ao que outras plataformas têm feito, como o Twitter e o Spotify, que vetaram propagandas de cunho político em suas redes e fizeram questão de anunciar essas mudanças a tempo para a corrida presidencial americana, que acontece este ano. Com isso, esperemos que a rede social de Mark Zuckerberg receba ainda mais críticas durante o pleito.
Em um post no blog oficial da empresa, Rob Leathern, diretor de gerenciamento de produtos do Facebook, que supervisiona a divisão de integridade da publicidade, ressaltou que o papel da empresa é de dar aos eleitores a liberdade de acessarem o que quiserem, lembrando, claro, da falta de uma regulamentação mais específica por lá.
“Na falta de regulamentação, o Facebook e outras empresas podem criar suas próprias políticas”, disse Leathern. “Baseamos o nosso no princípio de que as pessoas devem poder ouvir aqueles que desejam liderá-las, e que o que elas dizem deve ser examinado e debatido em público”, completa.
O que dizem os políticos?
A campanha de Trump, que tem criticado profundamente qualquer tentativa das empresas de tecnologia de regulamentar a publicidade política e já gastou mais de US$ 27 milhões na plataforma, apoiou amplamente a decisão do Facebook de não interferir na segmentação de anúncios ou definir padrões de verificação de fatos.
Os democratas, por outro lado, divergem entre si. Há um claro incômodo com o que a campanha de Trump pode fazer, mas, se o Facebook modificasse suas leis de anúncios, os próprios democratas poderiam ser impedidos de atuar da mesma maneira que eles tanto criticam, ou seja, com o envio de postagens direcionadas.
O Facebook minimizou a oportunidade de negócios em anúncios políticos, dizendo que a grande maioria de suas receitas veio de anúncios comerciais, e não políticos. Mas o Congresso observou que os anúncios na rede podem ser um ponto primordial da campanha de Trump, bem como os dos principais postulantes democratas.
Mas isso, porém, não impede que anúncios duvidosos – e até falsos – sejam publicados. Em outubro, por exemplo, um anúncio feito pela campanha de Trump no Facebook fez acusações falsas sobre Joe Biden e seu filho Hunter Biden. A propaganda rapidamente viralizou e foi vista por milhões de pessoas. Depois que a campanha de Biden pediu ao Facebook para derrubar o anúncio, a empresa recusou.
“Nossa abordagem é baseada na crença fundamental do Facebook na liberdade de expressão, no respeito pelo processo democrático e na crença de que, nas democracias maduras com uma imprensa livre, o discurso político já é sem dúvida o discurso mais minucioso que existe”, chefe de política global de eleições do Facebook , Katie Harbath, escreveu em carta enviada à campanha de Biden.
Em contrapartida, em uma tentativa de provocar o Facebook, a campanha presidencial de outra democrata, a senadora Elizabeth Warren, publicou um anúncio alegando falsamente que o CEO da empresa, Mark Zuckerberg, estava apoiando a reeleição de Trump. A plataforma também não retirou o anúncio.
Pessoas do alto escalão do Facebook disseram repetidamente que mudanças significativas em suas regras para anúncios políticos podem prejudicar a capacidade de organizações menores e com menos recursos financeiros para arrecadar dinheiro e organizar toda a rede. Em vez de revisar suas políticas, a plataforma fez pequenos ajustes.
Leathern disse que a rede social adicionará mais recursos de transparência à sua biblioteca de publicidade política nos próximos meses, um recurso para jornalistas e pesquisadores externos examinarem os tipos de anúncios exibidos pelas campanhas.
O Facebook também adicionará um recurso que permite que os usuários vejam menos anúncios de campanhas e questões políticas em seus feeds de notícias, algo que a empresa disse que muitos usuários solicitaram.
À medida em que as eleições americanas se aproximam, teremos mais noção de como as coisas vão acontecer. Nos resta esperar. Vale lembrar que, aqui no Brasil, 2020 é ano de eleições municipais.
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