Manter a temperatura da Terra a 1,5°C será impossível sem uma redução massiva das emissões de gases poluentes. É o que mostra um novo relatório divulgado pela ONU nesta quinta-feira (16). O documento “United in Science 2021”, elaborado por várias agências da organização e cientistas associados, é divulgado poucas semanas antes da COP26, que começa dia 31 de outubro em Glasgow, na Escócia.
De acordo com o relatório, as mudanças climáticas e suas consequências estão cada vez mais graves, e a redução temporária das emissões de CO2 na atmosfera, decorrente da pandemia de Covid-19, não desacelerou o efeito estufa. O Acordo de Paris de 2015 sobre mudanças climáticas, assinado durante a COP21, recomendou que o aquecimento global ficasse abaixo de 2ºC em relação ao nível pré-industrial – o ideal sendo 1,5°C.
Para o secretário-geral das Nações Unidas, António Guterres, o relatório é um diagnóstico alarmante, que mostra a que ponto “nós desviamos da trajetória” que conduziam aos objetivos do Acordo de Paris.
“Neste ano, as emissões de energia fóssil cresceram, as concentrações de gases continuam aumentando, e eventos metereológicos graves, relacionados à atividade humana, afetaram a saúde, a vida e os meios de subsistência em todos os continentes”, escreve Guterres no documento. “Se não reduzirmos imediatamente e em grande escala as emissões, limitar o aquecimento a 1,5ºC será impossível, com consequências catastróficas para a população e o planeta”, declara.
Efeito pandêmico
As emissões de gases poluentes atingiram seu pico em 2019, antes da queda de 5,6% em 2020, causada pelas restrições e a desaceleração econômica decorrente da pandemia. Em 2021, apesar da diminuição do transporte aéreo e marítimo, elas voltaram a crescer e praticamente atingiram o mesmo nível de dois anos atrás.
Outro problema é que as concentrações dos principais gases que provocam o aquecimento, como o CO2, o metano e o protóxido de azoto, continuaram a aumentar em 2020 e nos primeiros meses de 2021. Globalmente, apesar da diminuição em 2020, ela foi insuficiente para “inverter a variação natural” da concentração desses gases, influenciando pouco o efeito final.
A temperatura média global da Terra entre 2017 e 2021, incluindo os dados deste ano até junho, é estimada entre + 1,06ºC e + 1,26ºC em relação ao período pré-industrial (1850-1900). “O mundo está em um momento crítico, e o relatório mostra que não temos mais tempo a perder”, estimou o secretário-geral da ONU.
Fim da humanidade em jogo?
O Canadá registrou um recorde de calor em junho, com 49,6º C em Lytton, na Colômbia britânica. A onda de calor no noroeste do Pacífico foi um evento raro, mas teria sido virtualmente impossível sem a mudança climática provocada pelos humanos”, indica o documento.
Em relação às graves enchentes em julho na Alemanha, a ONU estima que a atividade humana “aumenta a possibilidade e intensidade desse tipo de acontecimento”.
O número de países que se comprometeram a zerar as emissões é encorajador, mas, até 2030, são necessárias ações mais impactantes para atingir esse objetivo, ressaltou. “Nosso futuro está em jogo”, preveniu o representante da ONU.
// RFI