Lula reconhece erros e afirma que eleitorado de Dilma em 2014 “se sentiu traído”

Antonio Cruz / Agência Brasil

Dilma Rousseff e Lula da Silva

Em plena campanha para voltar ao Planalto em 2018, o ex-presidente Luiz Inácio Lula da Silva (PT) tentou explicar, em entrevista ao jornal espanhol El Mundo, as razões do colapso econômico brasileiro.

Para ele, o rompimento da confiança no Brasil começou com as manifestações de 2013 e se agravou em 2015, quando sua sucessora, Dilma Rousseff (PT), “anunciou o ajuste fiscal e traiu o eleitorado que a elegeu em 2014 com a promessa de manutenção dos gastos”*.

Este teria sido o segundo principal erro do governo petista. O maior, avalia Lula, foi “exagerar nas políticas de desoneração das grandes empresas”. “O Estado deixou de arrecadar para devolver aos empresários e em 2014 saía mais dinheiro do entrava”, apontou.

Na entrevista, o ex-presidente foi questionado se estava arrependido de não ter disputado o pleito de 2014 no lugar de Dilma. Lula diz que não é “o tipo de pessoa que se arrepende”, mas que foi “leal” à democracia e a Dilma, e que reconhecia o direito que ela tinha de ser reeleita.

“Mas eu pensei nisso muitas vezes e sei que ela também”, afirmou.

Ainda na sua argumentação sobre a perda de credibilidade brasileira, o petista comparou o penúltimo ano de sua sucessora com 1999, primeiro ano do segundo mandato do ex-presidente Fernando Henrique Cardoso (PSDB).

Disse que a diferença principal não estava no governo, mas na Câmara. Enquanto FHC teve a seu lado o presidente da Casa, o hoje presidente da República Michel Temer (PMDB), Dilma Rousseff contou com a oposição de Eduardo Cunha (PMDB-RJ).

Lula disse ainda que se candidata à Presidência aos 72 anos “porque há muita gente que sabe governar, mas não há ninguém que saiba cuidar do povo mais necessitado” como ele. “Conheço suas entranhas, como vivem, o que necessitam”, avaliou.

Sobre a hipótese de ser condenado em segunda instância e ficar de fora das eleições, afirma que “ninguém é imprescindível” e que existem “milhares de Lulas”.

Política externa

O ex-presidente brasileiro respondeu a algumas questões relacionadas a política mundial. Questionado se estava mais próximo do “populismo latino-americano” ou da “social-democracia europeia”, disse respeitar a segunda, mas considerou que, no Brasil, “nós construímos o Estado a nossa maneira, nem melhor, nem pior”.

O ex-presidente ainda questionou a definição de populismo: “O que é ser populista? É falar a língua do povo e defendê-lo?”.

O petista negou que dê “apoio incondicional” ao presidente da Venezuela, Nicolás Maduro, mas defendeu a posição de que os habitantes do país devem resolver a crise política “entre eles”, sem “ingerência externa”.

Lula, que já foi chamado de “o cara” pelo ex-presidente dos Estados Unidos Barack Obama, disse que preferia não analisar pessoas a ser questionado sobre Donald Trump. No entanto, não se conteve em afirmar que “não é possível governar o mundo pelo Twitter”.

Ele ainda comentou a crise vivida pela Espanha durante a movimentação do governo da Catalunha por independência.

O ex-presidente disse “entender que o nacionalismo catalão tem uma história antiga”, e admitiu que prefere “uma Espanha unida”. O petista também recomendou ao rei Felipe VI que não tome partido e que o papel do monarca deveria ser “o de um mediador”.

ATUALIZAÇÃO – 24/10/2017:
*O jornal El Mundo, depois da repercussão da notícia, reescreveu a frase, informando que o ex-presidente Lula teria dito que o eleitorado “se sentiu traído”, e não que Dilma tenha traído seus eleitores.

Ciberia // GNI

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6 COMENTÁRIOS

  1. Não foram essas as palavras de Lula. Ele disse que o eleitorado “se sentiu traído” e não que “Dilma traiu o eleitorado”. Faz alguma diferença isso. Convém prestar atenção no que escreve pra evitar cair em descrédito.

  2. A falta de escrúpulos é tamanha, que justifica a declaração do próprio quando apoiava a Dilma em campanha: “Eles não sabem do que somos capazes para vencer esta eleição”.

  3. a atualização muda completamente a manchete, acho canalhice deixar uma correção pequena no fim e manter a mentira estampada na chamada.

  4. Podemos concluir que fica na história Brasileira um ex Presidente corrupto que é especialista em colocar a culpa de tudo nos outros, inclusive na esposa falecida, em quanto não sabia de nada que acontecia em sua volta, deveria ser processado por improbidade e não ficar dando conselhos a outros Governos, dizem que está na frente das pesquisa, devem ter sido feitas na terra dele, ou para quem recebe bolsa família, diga se de passagem para mim é a instituição da compra de votos.

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