A comissão da ONU que documenta os crimes da guerra na Síria lamentou que a matança de sírios “continue sem qualquer vergonha, decência ou responsabilidade”, a dois dias do sétimo aniversário do início do conflito.
O presidente da comissão, o jurista brasileiro Paulo Sérgio Pinheiro, apresentou ao Conselho de Direitos Humanos da ONU seu relatório mais recente sobre as violações de direitos fundamentais perpetradas na Síria desde julho do ano passado.
O responsável descreveu a situação que se vive hoje na região de Ghouta Oriental, uma sede rebelde perto de Damasco que tem sido alvo de uma intensa ofensiva das forças governamentais sírias, mas recordou que “nenhuma dessas atrocidades é nova”.
Paulo Sérgio Pinheiro lembrou se tratar da sua 23ª apresentação de um relatório à ONU e lamentou que todas as esperanças que renasceram no final do ano passado sobre o fim da violência tenham se dissipado com o recrudescer do conflito.
Ele lastimou ainda que nem a autoridade do Conselho de Segurança da ONU seja respeitada, recordando a violação do cessar-fogo decretado há apenas dez dias para permitir o acesso humanitário seguro a Ghouta Oriental.
“Centenas de doentes e feridos pioram enquanto esperam uma possibilidade de evacuação médica. Alguns dos que estavam na lista de casos graves para evacuação já morreram”, disse.
A comissão se referiu também à situação em Afrine, cidade do noroeste da Síria controlada pela milícia curda Unidades de Proteção do Povo (YPG), contra as quais o exército turco lançou uma ofensiva no dia 20 de janeiro. Na localidade, vivem atualmente 320 mil pessoas, incluindo 125 mil deslocados internos.
Sobre a província de Idleb, a única que ainda está sob controle de grupos rebeldes e onde vivem 2 milhões de pessoas, Pinheiro condenou o ataque a infraestruturas vitais para a sobrevivência dos civis, como hospitais.
De acordo com um novo balanço do Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH), a guerra na Síria já causou mais de 350 mil mortos. Entre as vítimas mortais encontram-se 106.390 civis, incluindo 19.811 crianças, precisou.
Após a intervenção de Paulo Sérgio Pinheiro, o embaixador sírio na ONU em Genebra, Hussam Edin Aala, rejeitou as alegações da comissão e acusou o Conselho dos Direitos Humanos de promover “uma campanha para manchar a imagem do governo sírio“.
Ciberia // ZAP