Acusado de oferecer jantares suntuosos, ministro francês renuncia

Titular da Ecologia, François de Rugy vinha sendo criticado por usar dinheiro público para custear jantares com lagostas e vinhos de 500 euros. Político também realizou reformas custosas em imóvel funcional.

O ministro francês da Ecologia, François de Rugy, renunciou ao cargo nesta terça-feira (16/07) após ser criticado por oferecer jantares suntuosos com dinheiro público à época em que era presidente da Assembleia Nacional, e por promover uma reforma custosa em seu apartamento funcional.

Rugy afirmou em seu perfil no Facebook que apresentou a renúncia ao primeiro-ministro, Édouard Philippe, para poder se defender das acusações.

“Os ataques e o linchamento midiático contra minha família me levam hoje a fazer um recuo necessário. O esforço necessário para lutar contra as acusações faz com que eu não possa realizar com tranquilidade as missões que me foram dadas pelo presidente”, escreveu.

O escândalo foi revelado pelo portal Mediapart na semana passada. O site deu detalhes de pelo menos uma dezena de jantares promovidos por Rugy entre 2017 e 2018, quando ele era presidente da Assembleia Nacional (Parlamento francês), na residência oficial reservada para o ocupante da função.

Nenhum dos jantares parecia ter relação com o cargo. Entre os convidados estavam amigos do ex-ministro e de sua esposa, uma jornalista que cobre celebridades. Fotos mostraram que, nos eventos, eram servidos vinhos de 500 euros (mais de 2 mil reais), lagosta e champanhe.

O jornal Le Parisien, por sua vez, revelou que a mulher do ministro usou dinheiro da Assembleia para comprar um secador de cabelo de 499 euros para a residência oficial.

Inicialmente, Rugy se recusou a deixar o cargo e disse que estava sendo vítima de uma campanha “grotesca” para acabar com sua reputação. Ele ainda afirmou que não comia lagosta por ter “intolerância alimentar a frutos do mar”.

A imprensa francesa ridicularizou a justificativa e ouviu médicos que afirmaram que não existe algo como “intolerância à lagosta”, mas sim alergia, e que esse não parecia ser o caso de Rugy, já que publicações antigas do ministro em redes sociais mostraram que ele apreciava frutos do mar.

Em seguida, o Mediapart revelou que, após assumir o cargo de ministro no governo de Emmanuel Macron, Rugy também usou fundos públicos para reformar seu novo apartamento funcional, desta vez reservado aos ocupantes do ministério.

A renovação foi avaliada em 63 mil euros (265 mil reais). Ele mudou a pintura, os carpetes, o piso e os banheiros, e instalou um grande closet, que custou quase 17 mil euros (71 mil reais). Nessa nova residência, ele ainda ofereceu um jantar para lobistas do setor energético, que não foi registrado na agenda oficial.

O ministro também foi acusado de alugar desde 2016 um imóvel na cidade de Nantes, usando um mecanismo de “aluguel social preferencial”, que garante pagamentos mais baixos para famílias de menor renda – tudo isso apesar dos seus altos rendimentos.

O site ainda revelou que a chefe de gabinete do ex-ministro continuava a ocupar um apartamento funcional em Paris mesmo sem viver regularmente há mais de dez anos na cidade.

O gatilho final para a renúncia ocorreu nesta semana, quando o Mediapart divulgou que Rugy pagou suas contribuições mensais para o Partido Ecológico, do qual é presidente, com a verba indenizatória a que os deputados da Assembleia Nacional têm direito para custear gastos ligados à função.

Tanto o governo como a Assembleia Nacional da França passaram a investigar as acusações, mas a renúncia do ministro veio antes da divulgação das conclusões.

A queda de Rugy, de 45 anos, deve representar mais um golpe para Macron, que há meses vem enfrentando protestos dos “coletes amarelos”. Os manifestantes acusam o governo de não agir contra a desigualdade no país e de governar para os ricos.

Nas últimas semanas, Rugy também vinha fazendo advertências ao Brasil diante da possibilidade de o país sul-americano não cumprir o Acordo de Paris sobre o clima.

No início de julho, o ministro disse que o acordo comercial entre a União Europeia e o Mercosul só seria “ratificado se o Brasil respeitar seus compromissos” contra o desmatamento. Em maio, ele ainda se encontrou com o líder indígena brasileiro Raoni Metuktire em Paris.

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