Autoridades da antiga União Soviética encobriram um “desastre nuclear quatro vezes pior do que Chernobyl”. A revelação surge mais de 60 anos depois de este acidente ter acontecido no Cazaquistão.
A descoberta foi feita graças a um relatório classificado como “top secret” que detalha os contornos do caso que ocorreu em agosto de 1956, no âmbito de testes com armas nucleares feitos pela antiga União Soviética em Semipalatinsk e Öskemen, no Cazaquistão.
O diretor do Instituto de Medicina Radioactiva e de Ecologia (IMRE) de Semey, no Cazaquistão, Kazbek Apsalikov, encontrou o relatório e o entregou à New Scientist que agora divulga as informações que ele contém.
O acidente provocou mais de 638 doentes com envenenamento radioativo, um número muito superior aos 134 envenenamentos verificados no terrível acidente nuclear de Chernobyl, 1986.
Marcado como “confidencial”, o relatório detalha que os cientistas russos, que se deslocaram até a zona em três expedições distintas, detectaram “considerável contaminação radioativa dos solos, vegetais e comida” no local onde decorreu o acidente e nas vilas e cidades das imediações, cita a New Scientist.
Apesar do incidente e das recomendações dos investigadores para que os testes nucleares parassem, eles continuaram e as autoridades não informaram as pessoas do acidente, muito menos o comunicaram ao resto do mundo.
No relatório, não há referências ao número de mortes associadas ao desastre nuclear, mas nota-se que o envenenamento dos residentes acabou quando deixaram de comer os alimentos produzidos localmente e passaram a consumir produtos importados.
Os cientistas também afirmam que as consequências persistiram meses depois do incidente, com níveis altíssimos de radiação que acarretavam elevado perigo para as pessoas.
Na sequência das expedições científicas, foi criada uma clínica especial e secreta para detectar os níveis de radiação e seus efeitos para a saúde.
Os testes nucleares em Semipalatinsk pararam em 1963 e o local é hoje considerado seguro para se viver, mas “algumas áreas, nunca voltarão a ter natureza”, diz Apsalikov à New Scientist, notando que em outras zonas, a situação “é incerta e potencialmente perigosa”.
// ZAP