Uma terceira dose da vacina para prolongar a imunidade contra a Covid ganha adeptos em vários países, principalmente ricos, mas a recomendação não tem unanimidade. Entre seus opositores, está a Organização Mundial da Saúde (OMS) que taxa os governos das nações mais desenvolvidas do planeta de “egoístas”.
Os laboratórios Pfizer e BioNTech defendem uma terceira dose para aumentar a eficácia de sua vacina anticovid contra novas variantes, e Israel já começou a aplicar um reforço nos pacientes mais vulneráveis.
O primeiro-ministro francês, Jean Castex, integra o grupo dos governantes favoráveis à medida. O premiê francês estima a terceira dose necessária principalmente para as pessoas mais vulneráveis — idosos e pessoas com comorbidades — que foram imunizadas no começo da campanha de vacinação na França, no início de 2021.
Terceira dose não faz sentido
Para a OMS, um terceiro reforço não faz o menor sentido enquanto a quase totalidade da população dos países pobres ainda não recebeu nenhuma dose da vacina.
Os países ricos prometeram um bilhão de vacinas ao Covax, assim como garantem o financiamento desse programa de distribuição mundial de imunizantes, gerenciado pela agência de saúde da ONU. Mas, além do fato de as promessas e cheques não chegarem no prazo prometido, as potências desenvolvidas barganham o essencial das doses disponíveis no mercado e, muitas delas, são contra a quebra das patentes das vacinas.
Por isso, quando alguns dirigentes mundiais falam em terceira dose, o diretor-geral da OMS, Tedros Adhanom Ghebreyesus, passa à ofensiva.
“Os países ricos começam a dizer : ‘nós controlamos o vírus, isso não é mais nosso problema…’ Não tenho certeza que eles já se livraram da pandemia ou tenham controlado a circulação do coronavírus por causa da variante Delta e de outras variantes que podem surgir. Sinto dizer isso, mas, se a solidariedade não funcionar, todo mundo vai saber o porquê. A culpa é da cobiça. Ninguém ainda está livre dessa história”, alerta o diretor-geral da OMS.
O aviso vale também para os fabricantes, e em primeiro lugar para os laboratórios Pfizer et Moderna. A organização pediu para que eles não priorizem as encomendas de terceiras doses de países que apresentam uma taxa de vacinação elevada. A OMS pede que as farmacêuticas privilegiem o Covax, que praticamente não tem recebido vacinas.
// RFI