Um ônibus que não emite poluentes e libera apenas água na atmosfera. No Brasil, a ideia já saiu do papel. A solução sustentável foi apresentada pelo Programa das Nações Unidas para o Desenvolvimento (PnuD) no IV Encontro dos Municípios com o Desenvolvimento Sustentável (EMDS), realizado na última semana de abril em Brasília.
Ao participar da mesa intitulada Como qualificar o transporte coletivo e atrair novas fontes de recursos, a especialista da agência da ONU, Rose Diegues, lembrou que, em março de 2016, três ônibus movidos a hidrogênio foram incluídos na frota paulista.
Os veículos sustentáveis foram desenvolvidos pelo PnuD em parceria com a Empresa Metropolitana de Transportes Urbanos de São Paulo (EMTU) e com recursos do Fundo Global para o Meio Ambiente (GEF).
“São Paulo foi escolhida porque é a cidade com a maior frota de ônibus do Brasil”, explicou Diegues. Os veículos rodaram por pouco tempo, pois apresentam uma tecnologia pré-comercial, com um modelo de negócio que ainda precisa ser implementado no Brasil.
A especialista do PnuD aponta, porém, que a iniciativa foi importante por transferir tecnologia e conhecimentos para a indústria nacional. “Esse projeto deu oportunidade ao mercado brasileiro para se adequar a essa nova tecnologia, que é uma tecnologia do futuro”, afirmou.
O Brasil foi o primeiro país da América Latina a colocar em circulação regular um ônibus movido a hidrogênio — e o quarto do mundo, junto com Estados Unidos, Canadá e Alemanha.
Também presente no evento, o secretário municipal de transportes de São Paulo, Sérgio Avelleda, apontou que, atualmente, apenas 7% dos veículos responsáveis pelo transporte urbano da cidade são sustentáveis.
O objetivo é chegar a 100%. “Apenas 21% da poluição gerada pelo sistema de transporte em São Paulo é causada pela frota de ônibus. Cerca de 40% é por caminhões, e o restante é pelos carros”, disse o secretário.
Nos últimos 15 anos, a frota de automóveis do Brasil triplicou, e a de motocicletas aumentou cerca de cinco vezes, o que torna fundamental a busca por soluções de mobilidade urbana sustentáveis.
Para mudar esse quadro, a diretora da Federação das Empresas de Transportes de Passageiros do estado do Rio de Janeiro (FETRANSPOR), Richele Cabral Gonçalves, defendeu o investimento em Transporte Rápido por Ônibus, os BRTs. “Cada BRT tira 3 ônibus da rua. Isso leva a ganho de eficiência energética no transporte público”, disse.
Para o presidente da Associação Nacional dos Transportadores de Passageiros sobre Trilhos (ANPTrilhos), Ailton Brasiliense, investimentos em sustentabilidade devem beneficiar não apenas os grandes centros urbanos, mas principalmente as cidades de médio porte.
“A perspectiva para os próximos 30 anos é que o Brasil ganhe cerca de 40 milhões de habitantes. Essas pessoas não vão morar em São Paulo, Rio de Janeiro ou Salvador. Elas vão viver nas cidades médias e, por isso, precisamos investir na mobilidade urbana dessas cidades”, alertou.
Dados e políticas públicas
O PnuD também moderou outra mesa do Encontro dos Municípios — Estratégias e instrumentalidades de gestão necessárias no enfrentamento das desigualdades.
Realizado na última quinta-feira, o evento contou com a participação do coordenador sênior de pesquisa do Centro Internacional de Políticas para o Crescimento Inclusivo (IPC-IG), Rafael Osório. O especialista alertou para a falta de dados de qualidade sobre a situação da população brasileira.
“O município deve e pode produzir dados úteis para o planejamento de políticas públicas”, afirmou Osório. O pesquisador reconheceu que, para as gestões locais, o trabalho estatístico é dificultado pela falta de recursos humanos. “É muito difícil, por exemplo, inserir um grande profissional capacitado no interior do Brasil”, alegou.
Ao longo das atividades do IV EMDS, especialistas concordaram que a escassez de dados confiáveis é um empecilho ao monitoramento da implementação da Agenda 2030 de Desenvolvimento Sustentável da ONU.
“O Brasil teve um processo destacado na formatação da Agenda 2030, que não é apenas uma agenda ambiental, é uma agenda de desenvolvimento sustentável, em três pilares: o social, o econômico e o ambiental. E traz mais um componente, que é o pilar institucional”, disse o secretário nacional de Articulação Social, Henrique Villas, durante o encontro.
“Não chegaremos a lugar algum sem instituições fortes e preparadas ao desafio, tanto de quem gere políticas públicas no âmbito federal como também de quem gere a política pública no âmbito municipal”, acrescentou.
Para o pesquisador do Instituto Brasileiro de Geografia e Estatística (IBGE), Leonardo Athias, no nível do monitoramento nacional, sabe-se da dificuldade para se ter “dados confiáveis, dados comparáveis e com os mesmos critérios”. Outros desafios incluem a compilação de estatísticas regionais, de acordo com o funcionário da instituição.
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