Pesquisadores portugueses revelam que os neandertais foram pioneiros na exploração de recursos marinhos

Um novo estudo liderado por pesquisadores da Universidade de Lisboa (Portugal) descobriu que a familiaridade dos hominídeos com o mar e os seus recursos é muito mais antiga do que se pensava – ao que tudo indica, a pesca e a recolha de marisco contribuíram de forma muito significativa para a economia de subsistência dos neandertais.

Esse tipo de consumo alimentar, ao lado de novas evidências sobre cultura material simbólica entre essa população, indica que os neandertais possuíam comportamentos avançados muito semelhantes aos dos humanos modernos.

Para chegar a essas conclusões, os pesquisadores escavaram a Gruta da Figueira Brava, situada no Portinho da Arrábida, entre 2010 e 2013.

Esta gruta, atualmente à beira mar, mas que chegou a estar a 2.000 metros da costa, foi constantemente usada como lugar de habitação ao largo dos vinte milênios compreendidos entre 86 e 106 mil anos atrás.

Lá, são abundantes os vestígios arqueológicos deixados por comunidades neandertais, como cinzas, carvões e outras provas de utilização intensiva do fogo, utensílios em quartzo e sílex e restos alimentares.

Os cientistas analisaram amostras de ossos humanos de centenas de enterramentos mesolíticos, descobrindo quantidades significativas de restos de peixe e marisco. Isso os levou a concluir que o componente marinho era importante para os neandertais, tomando até 50% de suas dietas.

“Por toda parte, há evidências de um sistema de assentamento/subsistência baseado na exploração regular de todos os recursos animais oferecidos pelo ambiente costeiro: grandes caranguejos, moluscos marinhos, peixes, aves e mamíferos marinhos, tartaruga, aves aquáticas e caça de animais com cascos”, dizem os cientistas em seu artigo, publicado na revista Science.

De acordo com os cientistas, a imagem dos neandertais como povo “do frio”, especializados na caça de mamutes, rinocerontes, bisontes e renas, é uma distorção criada pela história da investigação.

Esses preconceitos de investigação explicariam por que isso tipo de registro (o marinho) não foi encontrado anteriormente na Europa na escala vista entre populações de países africanos.

Os pesquisadores defendem que a grande maioria dos neandertais provavelmente viveu como os de Figueira Brava.

“Podemos inferir, portanto, que terá sido também assim no caso das populações neandertais do litoral atlântico da Península Ibérica”, disse o coordenador da pesquisa, o professor João Zilhão.

O artigo sobre o novo estudo foi publicado na prestigiada revista científica Science.

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