Os neandertais cuidavam dos seus doentes e feridos, tendo desenvolvido cuidados médicos muito eficientes. Um estudo recente sugere que esse comportamento era muito mais do que um fenômeno cultural: as práticas ajudaram os neandertais a sobreviver.
Para suportar as duras condições da Era do Gelo na Europa, os neandertais adotaram várias estratégias de sobrevivência, entre as quais a caça em grupo, a paternidade colaborativa e o compartilhamento de alimentos. Um estudo recente, publicado nos Quaternary Science Reviews, acrescenta ainda outro truque de sobrevivência: a saúde.
“Em vez de ser encarada apenas como um traço cultural, a saúde também pode ser vista como parte de várias adaptações que permitiram aos neandertais sobreviver em ambientes únicos onde viviam ao lado de grandes carnívoros predadores”, escreveu a equipe, liderada por Penny Spikins, da Universidade de York.
“Além disso, a saúde pode ter sido um fator significativo para permitir que os neandertais ocupassem um nicho predatório que, de outra forma, não estaria disponível para eles”, acrescentam.
É fácil nos prendermos à sua extinção, mas a verdade é que a essência dos neandertais é muito mais que isso. Eles fizeram da Era do Gelo a sua casa durante centenas de milhares de anos… e não foi por terem feito algo de errado. Pelo contrário.
Que os neandertais tinham um sistema de saúde muito próprio não é segredo. Devido à vida arriscada, as lesões faziam parte do dia a dia. Mas, em vez de negligenciar os feridos, os neandertais partiram dos doentes para melhorar sua assistência médica.
“Temos evidências de cuidados de saúde que datam de há 1,6 milhão de anos, mas achamos que vai muito além disso”, disse Spikins em comunicado. “Queríamos investigar se os cuidados de saúde nos neandertais eram mais do que uma prática cultural: foi algo que fizeram por acaso ou foi fundamental para suas estratégias de sobrevivência?”
Provas recolhidas pela equipe de Spikins sugerem que as práticas foram benéficas para o grupo e, consequentemente, uma grande adaptação evolutiva.
No estudo, os cientistas analisaram restos de esqueletos de 30 indivíduos neandertais que exibiam feridas, que variavam de leves a graves. Apesar dos ferimentos, cada um desses indivíduos conseguiu sobreviver. Os pesquisadores referem que é altamente improvável que tenham conseguido sobreviver sem ajuda, desconfiando, assim, da implementação de um sistema de saúde cuidado e bem desenvolvido.
“O alto nível de lesões e recuperação de doenças graves sugere que outras pessoas devem ter colaborado nos cuidados de saúde, assim como ajudado a aliviar a dor e a lutar pela sobrevivência do indivíduo, encorajando-o a participar ativamente das atividades do grupo novamente”, disse Spikins.
Para tratar seus feridos, os neandertais empregaram várias estratégias, dependendo sempre da gravidade e natureza da lesão. Segundo o Gizmodo, lesões graves, como uma perna quebrada, exigiram controle da febre e reposicionamento de ossos partidos. Em alguns casos, implicou ainda limitar a perda de sangue: por isso, sim, os tratamentos eram bastante sofisticados.
“Os neandertais parecem ter sido prestadores de cuidados de saúde especializados em colaboração”, escrevem os autores. Tratar de doentes feridos e ajudar as mães durante o parto requeria muito tempo e energia, mas para os neandertais era uma necessidade: como viviam em pequenos grupos, a perda de um indivíduo poderia ser catastrófica.
Cuidar dos membros gravemente feridos era uma questão de sobrevivência geral. Isso não quer dizer que os neandertais não agissem por compaixão, até porque é bem provável que sim. No entanto, os cientistas afirmam que os cuidados de saúde serviram um propósito pragmático que ajudou o grupo a sobreviver como um todo. E, por consequência, toda a espécie.
Assim, o cuidado com a saúde “não foi apenas uma adaptação evolucionária”. Pode ter sido também um fator essencial para a sobrevivência da espécie. Sem os benefícios da assistência médica, argumentam os cientistas, a Era do Gelo da Europa seria, muito provavelmente, intolerável.
Ciberia // ZAP