O que acontece quando um polvo consome drogas, mais precisamente ecstasy? Cientistas norte-americanos tiveram a oportunidade de descobrir.
De acordo com o Science Alert, a equipe de pesquisadores deu MDMA, substância psicoativa também conhecida por ecstasy, a vários polvos solitários, e basicamente começou a observar como esses cefalópodes se agarravam uns aos outros.
À primeira vista, a pesquisa parece estranha, mas, na verdade, conseguiu resultados importantes, demonstrando uma ligação evolutiva entre os humanos e esses animais na forma como a serotonina codifica o comportamento social.
“Apesar das diferenças anatômicas entre o polvo e o cérebro humano, conseguimos mostrar que existem semelhanças moleculares no gene transportador da serotonina”, afirma o neurocientista Gül Dölen, da Universidade Johns Hopkins, nos EUA.
“Essas semelhanças moleculares são suficientes para permitir que o MDMA induza comportamentos pró-sociais nesses animais”, explica o cientista.
Segundo o mesmo site, mais de 500 milhões de anos separam os polvos dos humanos, isto é, quando os dois últimos tiveram um ancestral em comum. Mas depois de o genoma de polvos de dois pontos da Califórnia (Octopus bimaculoides) ter sido sequenciado e publicado, os cientistas suspeitaram que os cérebros das duas espécies podem funcionar da mesma forma – e de uma maneira específica.
Dölen e o biólogo evolucionista e marinho Eric Edsinger, do Laboratório de Biologia Marinha, descobriram uma semelhança genética entre humanos e polvos. O estudo foi publicado, nesta quinta-feira (20), na revista científica Current Biology.
Em questão está o transportador que liga a serotonina, idêntico entre humanos e o “bimac”, como também é conhecida essa espécie de polvo. A serotonina desempenha um papel importante na regulação do humor, sentimentos de felicidade e bem-estar, assim como depressão – e sua atividade é aumentada graças ao MDMA.
O ecstasy é conhecido por ser uma droga “feliz”, que aumenta os sentimentos de euforia, empatia e vontade de se relacionar com os outros. E isso não foi só observado em humanos – ratos tiveram a mesma reação quando estiveram expostos à substância.
A diferença é que humanos e ratos costumam ser animais sociais, ao contrário dos polvos, como o O. bimaculoides, que são conhecidos por serem solitários, preferindo a própria companhia à dos companheiros.
Acontece que eles podem ser um pouco mais sociais do que pensávamos, especialmente com um pouco de ajuda neuroquímica. Para isso, os cientistas norte-americanos fizeram duas experiências.
Na primeira, cinco polvos machos e cinco polvos fêmeas foram colocados em câmaras. De um lado, visível através de uma parede clara com um buraco, para que o polvo pudesse entrar, estava um boneco de plástico. Do outro, novamente separado por uma parede com um buraco, estava outro polvo, em uma gaiola.
Sem estarem drogados, todos os polvos, machos e fêmeas, estavam interessados em socializar com polvos femininos, mas não com os machos. Ou seja, não revelaram ser super-sociais, mas eram mais sociais do que se pensava anteriormente.
Com o MDMA, quatro polvos machos e quatro polvos fêmeas estiveram expostos à substância, antes de serem colocados na mesma câmara durante 30 minutos. Dessa vez, todos passaram mais tempo com outros polvos, incluindo os machos (e houve muito contato físico).
“Não é apenas uma questão de ter mais tempo, é qualitativo. Os polvos tenderam a abraçar a jaula e colocar a boca na gaiola”, explica Dölen. “Isso é muito semelhante ao modo como os humanos reagem com o MDMA: se tocam com frequência“.
A pesquisa não só explica melhor a evolução da sinalização serotoninérgica na regulação de comportamentos sociais, é também uma descoberta que poderia ajudar a estudar e a desenvolver drogas psiquiátricas, particularmente antidepressivos inibidores seletivos de recaptação de serotonina (SSRI, na sigla em inglês).
Mas, primeiro, os resultados precisam ser reconfirmados com novas pesquisas. Entretanto, os cientistas sequenciam os genomas de duas outras espécies de polvos, que são diferentes do O. bimaculoides, na esperança de lançar mais luz sobre como seus comportamentos sociais evoluíram.
Ciberia // ZAP