Um dia depois de rejeitar a proposta do premiê Boris Johnson por eleições antecipadas, o Parlamento britânico acatou nesta terça-feira (29/10) proposta semelhante, que prevê eleições gerais em 12 de dezembro.
A proposta, aprovada por 438 votos contra 20 na Câmara dos Comuns, ainda precisa passar pela Câmara dos Lordes.
A aprovação se deveu sobretudo a uma mudança de posição do Partido Trabalhista (oposição), que se absteve em peso da votação na segunda-feira, mas trocou de estratégia nesta terça e apoiou a antecipação das eleições.
Jeremy Corbyn, líder dos trabalhistas, afirmou que seu partido está pronto para “lançar a campanha mais ambiciosa e radical por mudança real da história do nosso país”.
A antecipação do pleito marca um passo significativo na política britânica, após meses de impasse em torno do Brexit, o processo de saída do Reino Unido da União Europeia.
O Parlamento britânico havia aprovado na semana passada o acordo de saída costurado entre Johnson e a UE, mas rejeitado o calendário exigido pelo premiê para apressar a votação de eventuais emendas.
O entrave forçou o Reino Unido a pedir um novo adiamento do Brexit ao bloco europeu — agora, a saída britânica está agendada para 31 de janeiro de 2020.
Depois disso, Johnson afirmou que “infelizmente, temo que este Parlamento nunca (ratificará plenamente o acordo de saída) enquanto a opção for adiá-lo cada vez mais. É por isso que estou tentando uma eleição geral em dezembro, para garantir a eleição de um novo Parlamento, que seja capaz de resolver essa questão dentro das nossas normas constitucionais”.
A expectativa é de que o Parlamento seja dissolvido na semana que vem, como preparação para as eleições gerais.
As estratégias com a nova eleição
Sendo assim, a estratégia de Johnson com as novas eleições é tentar sair fortalecido com o voto popular e renovar o Parlamento, em busca de mais apoio para seus planos de Brexit.
Do outro lado, o trabalhista Corbyn, contrariando a visão de parte de seu partido, espera repetir o que ocorreu na eleição antecipada de 2017, convocada pela então premiê Theresa May.
Assim como Johnson, May (conservadora) antecipou o pleito na tentativa de se fortalecer, mas a tática deu errado e os eleitores acabaram aumentando a quantidade de cadeiras dos trabalhistas no Parlamento.
Corbyn afirmou que aceitou as eleições antecipadas por acreditar que sua reivindicação principal — a de que o Brexit não ocorra sem acordo com a UE — foi atendida com a aprovação, por parte dos europeus, da extensão até 31 de janeiro de 2020 do prazo para a saída.
Também na oposição, os partidos Liberal Democrata e SNP (escocês) têm sua própria agenda ao decidir apoiar as eleições: expandir seu número de assentos para combater a realização do Brexit. Eles acataram a proposta de Johnson sob a condição de que o premiê não volte a tentar aprovar novas medidas relacionadas ao Brexit até o fim da atual legislatura.
Só que, como explica Laura Kuenssberg, editora de política britânica na BBC, o resultado do pleito de 12 de dezembro por enquanto é imprevisível — e pode ser que todas essas estratégias naufraguem ou mesmo que o Parlamento acabe com composição parecida à que tem atualmente.
Vozes contrárias
O projeto votado nesta terça pelos parlamentares foi proposto por Johnson — em sua quarta tentativa de antecipar eleições — e previa que eleições gerais fossem aprovadas apenas com maioria simples dos parlamentares (diferentemente da votação na véspera, que exigia dois terços do Parlamento e fracassou, uma vez que apenas 299 parlamentares, em vez dos 434 necessários, aprovaram a eleição geral).
Apesar da aprovação, o projeto causa controvérsia, e nem mesmo todos os conservadores foram a favor da proposta.
O ex-ministro Philip Hammond, que foi expulso do Partido Conservador no Parlamento depois de votar contra um Brexit sem acordo, se disse “enojado” com a ideia de gastar “tempo precioso” com os preparativos da eleição, em vez de com as leis que definirão o Brexit.
Hammond afirmou à BBC acreditar que a real motivação de Boris Johnson para querer uma eleição é “mudar a composição do Partido Conservador” e “se livrar dos parlamentares que considera insuficiente duros” no que diz respeito ao Brexit.
Houve vozes dissidentes também na oposição.
O trabalhista Barry Sheerman, por exemplo, afirmou considerar “completa loucura” realizar uma eleição em dezembro “na agenda de Boris (Johnson)”.
O Parlamento chegou a votar, mais cedo nesta terça-feira, uma proposta de eleições gerais no dia 9 de dezembro, que era defendida pelos partidos Liberal Democrata e SNP, com o objetivo de diminuir o tempo possível para Johnson eventualmente colocar medidas relacionadas ao Brexit em votação nos dias finais da atual legislatura. A proposta do dia 9, no entanto, foi rejeitada pela maioria dos parlamentares.
Do lado da UE, o presidente do Conselho Europeu, Donald Tusk, afirmou que o adiamento do prazo final do Brexit “deverá ser o último”. “Por favor, façam melhor uso (dessa extensão) desta vez”, afirmou ele pelo Twitter aos parlamentares britânicos.
// BBC