Um relatório elaborado pelo Ministério do Interior britânico detalha a “relação turbulenta” entre Kate e Gerry McCann e as autoridades portuguesas e britânicas, no âmbito do desaparecimento da filha Madeleine, no Algarve (sul de Portugal).
O relatório considerado secreto, divulgado pela Sky News, destaca que o casal britânico, que desde cedo se considerou “mal tratado” pela polícia portuguesa, acabou também por se desentender com a polícia britânica.
Uma das principais conclusões do relatório é que os McCann “não compartilharam com a polícia informação recolhida pelos seus detectives privados” que investigaram o desaparecimento da filha.
O relatório teria sido solicitado pelo então Secretário de Estado Alan Johnson, segundo frisa a Sky News, destacando que ele “queria saber se valia a pena envolver a Scotland Yard depois de as autoridades portuguesas terem encerrado sua primeira investigação” sobre o desaparecimento.
Assim, o documento redigido pela Agência de Proteção à Criança britânica apurou que os McCann consideravam que havia “falta de clareza e de comunicação da parte da polícia portuguesa” e lamentavam que “foram levados, em mais do que uma ocasião, para a esquadra de polícia e deixados à espera, durante horas, para falar com alguém que nunca se materializou”.
“Claramente, os McCann tiveram uma relação turbulenta, tanto com as autoridades portuguesas como com as do Reino Unido”, refere o relatório, notando a “distinta falta de confiança entre todas as partes”.
O documento ainda evidencia que “é imperativo” que o casal McCann seja “encorajado e persuadido a compartilhar” a “grande quantidade de informação” recolhida pelos detetives privados que contrataram.
Investigação só avançou graças a manchete do The Sun
A conclusão final do relatório indicava que a Scotland Yard fizesse uma revisão da investigação portuguesa, mas o dossiê ficou na gaveta durante vários meses, conforme revela o ex-diretor da Agência de Protecção à Criança, Jim Gamble, à BBC, em um documentário do programa Panorama sobre o desaparecimento de Madeleine McCann.
A BBC informa que a Scotland Yard só se dedicou ao caso depois de uma manchete do jornal The Sun, em 2011, com uma carta dos McCann endereçada ao então primeiro-ministro, David Cameron, pedindo a revisão do caso.
Jornalista “foi aliciado para ser espião dos McCann”
No mesmo documentário da BBC, em um especial sobre o 10º aniversário do desaparecimento, o jornalista que lidera a investigação, Richard Bilton, assume que alguém dentro do seio dos McCann lhe propôs um acordo para que agisse como “espião” dentro dos elementos da imprensa que cobriam o caso.
“Me ofereceram acesso exclusivo a todos os novos desenvolvimentos no caso, uma pista interna para quaisquer novos avanços. Mas havia um preço. Era esperado que eu agisse como espião dentro do grupo da imprensa“, destaca Bilton no documentário.
O jornalista cita os advogados dos McCann garantindo que eles “não tomaram parte em nenhuma forma de intimidação ou de segmentação” e que “não tinham conhecimento” desse tal acordo.
Bilton faz esta revelação, em primeira mão, a Robert Murat, enquanto entrevista, no documentário, o britânico que começou por ajudar a polícia no caso, como tradutor, mas que acabou se tornando suspeito do desaparecimento de Madeleine.
“Disseram que me dariam acesso a linhas da investigação, histórias novas, se eu reportasse o que o grupo de imprensa dizia sobre eles“, conta o jornalista a Murat que diz que fica “incrivelmente zangado” com a revelação.
“Retiraram o foco de tentar chegar ao fundo disto, de descobrir realmente o que aconteceu, e puseram os holofotes em outra pessoa. Fico incrédulo, me deixa simplesmente atordoado”, acrescenta Murat no programa da BBC.
Polícia portuguesa ofereceu acordo para Kate confessar
No documentário da BBC, fica ainda a revelação do porta-voz dos McCann, Clarence Mitchell, que garante que, quando o casal foi considerado suspeito pela justiça portuguesa, e depois de Kate ter se recusado a responder às perguntas da Polícia Judiciária (PJ) portuguesa, recebeu um acordo.
A PJ teria garantido a Kate que, se confessasse a responsabilidade pela morte acidental de Madeleine, teria uma sentença mais leve e Gerry poderia voltar ao Reino Unido com os filhos gêmeos, segundo Mitchell.
A PJ acreditaria, na época, que Madeleine teria morrido devido à administração de medicação, por parte de Kate, que era anestesista, e que o casal teria escondido o cadáver da criança para congelá-lo e cremá-lo em seguida.
O programa da BBC inclui ainda declarações do diretor-adjunto da Polícia Judiciária, Pedro do Carmo, do ex-presidente do sindicato dos oficiais da polícia, Carlos Anjos, do ex-Chefe de Alojamento do resort da Praia da Luz, Vítor dos Santos, da jornalista Sandra Felgueiras, da RTP, que entrevistou os McCann, e até de José Sócrates, político português.
O ex-primeiro-ministro português é entrevistado no âmbito de declarações de Gonçalo Amaral, ex-inspetor da PJ responsável pelo caso, que diz que foi afastado do mesmo devido a “pressões políticas” do Reino Unido.
Confrontado pela BBC se recebeu um ultimato do ex-primeiro-ministro Gordon Brown para afastar Amaral, Sócrates assegura que “não é verdade” e que o ex-PJ “considera-se em alto nível”.
// ZAP
Esta história já cheira mal, pior que o cadáver da menina se fosse achado