Não é de hoje que Jeff Bezos, fundador da Amazon e da Blue Origin, nutre uma rivalidade com Elon Musk (fundador da SpaceX) e grande antipatia por Donald Trump. Agora, essa rixa vem escalando a um patamar que poderia até mesmo levar Bezos a concorrer à presidência dos Estados Unidos em 2024, especialmente se um litígio contra o mandatário máximo estadunidense render frutos para sua gigante do varejo e de serviços em nuvem.
Em primeiro lugar está a disputa entre Musk e Bezos. Ambos duelam pela corrida espacial comercial, o que gerou várias, digamos, “trocas de gentilezas”. Esse confronto pode levar a Amazon a entrar de cabeça no segmento de veículos elétricos, justamente para que a Tesla (outra empresa de Musk), que enfrenta dificuldades para se estabelecer nessa seara, tenha uma concorrência capaz de preocupar ainda mais seus investidores.
Já a “treta” entre Bezos e Trump está bastante atrelada ao The Washington Post, jornal que hoje pertence à Amazon e que não costuma ser muito gentil com a atual administração do país. Sempre que pode, o presidente norte-americano deixa claro que discorda da posição do periódico e diz sofrer perseguição do grupo.
O projeto JEDI, a Microsoft, o Pentágono e a Justiça
Dito isso, chegamos a um episódio envolvendo o projeto Joint Enterprise Defense Infrastructure (JEDI), iniciativa do governo dos EUA que prevê um cobiçado orçamento de US$ 10 bilhões. O projeto visa construir uma plataforma de inteligência artificial que será usada pelo Pentágono para controlar mecanismos de defesa — uma rede de alta tecnologia em nuvem capaz de gerenciar autômatos armados, a exemplo de drones.
A grande líder em serviços de nuvem atualmente é a Amazon, e todos imaginavam que o Amazon Web Services seria o grande vencedor da licitação. Contudo, no final do ano passado, a escolhida foi a Microsoft com o Azure, para a surpresa até mesmo dos outros participantes do processo.
A Oracle chegou a acionar judicialmente o governo, acusando as autoridades de excluir grupos menores devido ao alto grau de exigência — aliás, os próprios executivos da Oracle acreditavam que somente a Amazon poderia preencher esses requisitos.
O caso, claro, foi imediatamente associado às rusgas envolvendo Trump e Bezos. Some essa decisão ao fato de a Amazon não ter tido o apoio de políticos para a instalação de uma grande fábrica em Nova Iorque, possivelmente por influência do presidente dos Estados Unidos — que mostra uma conversa mais amigável com Musk, principalmente quando o assunto envolve disputas tecnológicas com a Tesla, a Space X e outros negócios rivais de empresas de Bezos.
Para piorar a situação, Guy Snodgrass, redator de discursos do general James Mattis, ex-secretário de Defesa dos Estados Unidos, colocou mais lenha na fogueira. Snodgrass revelou em seu livro (Holding the Line: Inside Trump’s Pentagon with Secretary Mattis), lançado em outubro do ano passado, que Trump teria dito a Mattis que “a Amazon que se ferre”. Isso teria acontecido justamente na época da licitação do JEDI — o que, claro, aborreceu ainda mais Jeff Bezos.
A contrapartida demorou alguns meses, mas, de acordo com a CNBC, foi oficialmente registrada na última segunda-feira (10). Os advogados da Amazon protocolaram uma ação, processando a Casa Branca e exigindo que Trump e Mattis se expliquem no tribunal, sob a alegação de que relações pessoais motivaram a escolha pela Microsoft no projeto JEDI.
Um porta-voz de Bezos disse o seguinte: “O presidente Trump demonstrou repetidamente sua posição para interferir nas funções do governo — incluindo aquisições federais —, com o objetivo de promover seus objetivos pessoais.
A preservação da confiança do público no processo de compras do país exige a descoberta e a suplementação do registro administrativo, particularmente à luz da ordem do presidente Trump de ‘ferrar com a Amazon’”.
Bezos estaria minando as forças de Trump
É improvável que Trump vá ao tribunal se explicar, mas os esforços de Bezos estariam concentrados em minar as forças do presidente, acusando-o de usar o dinheiro do contribuinte para inflar seu próprio ego. Além disso, outros objetivos seriam irritar e consumir tempo de Trump, assim como destacar Bezos frente aos eleitores.
A especulação de alguns especialistas aborda a ideia de que Bezos não estaria de olho na disputa presidencial deste ano, e sim na de 2024, quando ele poderia articular democratas e construir uma reputação para vencer um possível sucessor de Trump, caso este não seja reeleito.
E, claro, com uma vitória, Bezos não somente estaria em posição para superar Trump e seus aliados políticos, como também poderia impor várias derrotas a Elon Musk. Embora essa história tenha projeções dignas de “teorias da conspiração”, não dá para negar que o desenho dos acontecimentos até agora pode resultar em um embate ainda maior no futuro próximo. Vamos ficar de olho para ver o que acontece.
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