Valdomiro de Sousa conta que desde quando trabalhava como servente de pedreiro tinha um sonho: estudar medicina! Mas faltava dinheiro.
“Tive uma vida muito sofrida, já fui pobre demais, trabalhei de pedreiro, de servente, já fiz caixão, trabalhei de tudo que puder imaginar. Melhorei minhas condições para poder bancar o curso, consegui me organizar estudando e trabalhando”, disse ao G1.
E como nunca é tarde para realizar um sonho, hoje, aos 87 anos, ele está ansioso pelo fim da pandemia para planejar sua formatura na faculdade de Medicina, após ter se formado em contabilidade e direito.
O idoso concluiu neste semestre a metade do curso de medicina.
Se encontrou
Apesar de ter trabalhado como contador por 10 anos e como advogado por 4, Valdomiro conta que não se encontrou nessas profissões. Por isso, mesmo com a vida financeira já estável, ele decidiu estudar novamente para conseguir ingressar no curso de medicina.
Foram três anos prestando vestibulares, até que, aos 84, Valdomiro foi aprovado em uma faculdade particular de Goiânia. A mensalidade custa, em média, R$ 7,5 mil.
“Foi muito difícil, mas é um sonho de muitos anos, um sonho de criança, então, corri atrás. Até hoje não me canso de admirar a profissão de médico”, relata.
Sessão de fotos
Para comemorar a conclusão de metade do curso, que tem duração total de seis anos, Valdomiro realizou uma sessão de fotos de “meio médico” com o fotógrafo Gregore Miranda, que ficou inspirado pela trajetória do idoso.
“Ele é uma inspiração para a turma toda dele e faz vários planos para o futuro. Quando se formar, aos 90, ele ainda quer fazer uma especialização. Os jovens costumam colocar dificuldade em tudo, ficam arranjando desculpas, enquanto ele nos dá esse exemplo, vai lá e faz tudo”, conta o fotógrafo.
Pandemia
Por causa da pandemia, Valdomiro não tem ido à faculdade. Ele faz parte do grupo de risco do coronavírus. Além da idade, é diabético e hipertenso. Por isso, está sem sair de casa desde o início da pandemia.
Mas ele é um aluno aplicado e acompanha as aulas on-line, inclusive as provas. Uma professora foi até a casa dele para aplicar os últimos exames deste semestre. “Fiz 13 provas em uma semana, todas aqui em casa”, conta ele.
Até mesmo o ensaio de “meio médico”, realizado em setembro, não pôde ser ao lado dos colegas de curso. O fotógrafo foi até a casa do idoso, enquanto os demais alunos foram fotografados na faculdade.
Ansioso pelo fim da pandemia, o idoso já planeja a festa de formatura, prevista para daqui três anos.
“Devo me formar com 90 anos. Quero fazer uma festa de arromba, vários dias de comemoração. Agora é pedir a Deus para me dar saúde”, concluiu.