O chavismo recuperou a Assembleia Nacional (AN), que desde 2015 era comandada pela oposição, com mais de 67% dos votos para a coligação Grande Polo Patriótico. A coalizão dos partidos opositores obteve 17% dos votos, de acordo com Indira Alfonso, a presidente do Conselho Nacional Eleitoral.
Os resultados das eleições venezuelanas foram anunciados na madrugada desta segunda-feira (8), mais de cinco horas após o fechamento dos centros de votação. Segundo Alfonso, houve cerca de 31% de participação no pleito.
Entre os eleitos estão nomes tradicionais do chavismo, como o de Diosdado Cabello, presidente da Assembleia Nacional Constituinte, e o da primeira-dama, Cília Flores. O alto índice de abstenção mostra a insatisfação popular com o governo de Nicolás Maduro.
A falta de eletricidade em algumas regiões do país atrasou a divulgação dos resultados. Para que mais pessoas pudessem votar, o CNE manteve abertos os colégios eleitorais uma hora a mais do que havia sido estipulado pelo cronograma, o que também contribuiu para o atraso da divulgação dos resultados.
Os 277 eleitos neste domingo tomarão posse em janeiro de 2021. A ampliação do número de cadeiras na AN representa um ajuste interno favorecido pelo CNE para acomodar interesses políticos e também extinguir a Assembleia Nacional Constituinte, criada através de uma eleição para rivalizar com o parlamento de maioria opositora.
Analistas afirmam que a abstenção foi de cerca de 80%. Este índice é um reflexo da decepção que os venezuelanos sentem em relação ao governo chavista e à oposição. Pelo terceiro ano consecutivo, a Venezuela está em hiperinflação e a população, cada vez mais empobrecida.
No interior do país, houve denúncia de compra de votos. Descontentes, eleitores atacaram o palácio de governo do estado Zulia pedindo “o que havia sido prometido”. De acordo com o Sindicato Nacional dos Trabalhadores da Imprensa, jornalistas que faziam a cobertura eleitoral sofreram agressões.
Consulta popular
Nicolás Maduro teve em poucos minutos seu domicílio eleitoral alterado. Durante anos ele votou em um bairro popular de Caracas, mas neste domingo votou no Forte Militar Tiúna. A repentina mudança levantou críticas e desconfiança sobre a blindagem do sistema.
A primeira dama Cília Flores afirmou que o sistema eleitoral era muito rápido e por isso não havia filas nos centros de votação, ignorando a alta abstenção. Já Nicolás Maduro Guerra, filho do presidente, afirmou que, após votar, as pessoas poderiam ir à praia ou “tomar uma”, ignorando a lei seca imposta por causa das eleições.
Com a eleição do filho e da esposa, Nicolás Maduro se fortalece no governo da Venezuela, criando uma dinastia. Mike Pompeo, secretário de Estado dos Estados Unidos, classificou as eleições parlamentares como uma “farsa” e “fraude”. Por sua vez, o Canadá anunciou que não reconhece os resultados da votação parlamentar.
José Luis Rodríguez Zapatero, ex-chefe do governo espanhol, está em Caracas acompanhando o processo eleitoral e pediu “respeito, sem interferência” da comunidade internacional nesta votação.
Juan Guaidó não participou da votação. Mas, na luta contra o chavismo, a oposição na Assembleia, liderada por ele promove, desta segunda-feira (7) até o próximo dia 12, uma consulta popular para questionar, entre outros temas, a legitimidade das eleições deste domingo. Ele pretende, desta forma, manter em funcionamento o parlamento que preside após cinco de janeiro, data de posse dos eleitos no pleito deste domingo.
// RFI