Um novo estudo sugere que toda a Via Láctea pode estar emitindo os componentes necessários para a vida por todo o Universo através de meteoroides, asteroides, planetoides e outros objetos.
Conhecida como a teoria Panspermia – ideia de que os micro-organismos e os precursores químicos da vida são capazes de sobreviver transportados de um sistema estrelas para o seguinte –, os cientistas têm se baseado nessa teoria há mais de dois séculos para teorizar sobre a distribuição de vida pelo Universo.
Agora, pesquisadores do Centro Harvard-Smithsonian para a astrofísica, conduziram um estudo que expande a teoria Panspermia a uma escala galática.
O estudo publicado no dia 10 de outubro na biblioteca online arXiv.org, intitula-se Galactic Panspermia e está, neste momento, sendo revisto para publicação nos Monthly Notices of the Royal Astronomical Society.
O estudo, liderado por Idan Ginsburg, acadêmico no Instituto de Teoria e Computação (ITC) em Harvard, afirma que a maioria das pesquisas anteriores sobre panspermia se concentrou apenas em saber se vida pode ter sido distribuída através do Sistema Solar ou de estrelas vizinhas.
Mais especificamente, a nova publicação afirma que esses estudos abordaram apenas a possibilidade de a vida ter sido transferida entre Marte e a Terra (ou outros corpos solares) via asteroides ou meteoritos.
No novo estudo, Ginsburg e a equipe vão mais longe que os estudos anteriores – a nova teoria lança uma rede mais larga que olha para além dos limites da Via Láctea.
A teoria inspirada no Oumuamua
Abraham Loeb, presidente da faculdade Frank B. Baird Jr., da Universidade de Harvard e um dos membros da equipe que formulou a nova teoria, afirmou que a inspiração para o novo estudo se deveu ao primeiro visitante interestelar conhecido – o Oumuamua.
“Após essa descoberta, Manasvi Lingam e eu escrevemos um artigo em que mostramos que objetos interestelares como o Oumuamua podiam ser capturados através de sua interação gravitacional com Júpiter e o Sol”, contou.
“O Sistema Solar atua como uma rede de pesca gravitacional que contém milhares de objetos interestelares desse tamanho. Esses objetos poderiam potencialmente semear a vida a partir de outro sistema planetário”, acrescentou.
Segundo Loeb, a eficácia da “rede de pesca” é muito maior para um sistema estelar binário, como nos casos do Alpha Centauri A e B que poderiam capturar objetos tão grandes quanto a Terra.
“Independentemente de serem rochosos ou gelados, os objetos podem ser expelidos do sistema hospedeiro e viajar para milhares de anos-luz de distância. O centro da galáxia pode atuar como um poderoso motor para semear a Via Láctea”, explicou Ginsburg.
O novo estudo publicado também recorreu a estudos prévios. Um deles, publicado em 2016, sugeria que o centro da Via Láctea poderia ser a ferramenta através da qual estrelas de hipervelocidade eram projetadas de um sistema binário e depois capturadas por outro sistema.
Para o novo estudo, a equipe criou um modelo analítico para determinar a probabilidade de esses objetos serem trocados a uma escala galática entre sistemas estelares.
“Calculamos quantos objetos rochosos (que são ejetados de um sistema planetário) podem ser capturados por outro em toda a galáxia da Via Láctea. Se a vida pode sobreviver por um milhão de anos, pode haver mais de um milhão de objetos do tamanho do Oumuamua que são capturados por outro sistema e podem transferir a vida entre as estrelas”, explicou Loeb.
“Portanto, a Panspermia não se limita exclusivamente a escalas de tamanho do Sistema Solar – toda a Via Láctea pode estar trocando componentes bióticos“, revelou.
Ginsburg acrescentou ainda que o modelo criado pela equipe calcula a taxa de captura de objetos na Via Láctea que dependem da velocidade e do tempo de vida de qualquer organismo que possa viajar sobre o objeto.
Depois dos cálculos, a equipe descobriu que a possibilidade da Panspermia galática se resumiu a algumas variáveis – uma delas se relaciona com a própria sobrevivência dos organismos durante a viagem entre um sistema e outro.
Conclusões
Apesar das variáveis encontradas, os pesquisadores descobriram que, mesmo no pior cenário possível, a Via Láctea pode conseguir trocar componentes bióticos por grandes distâncias. Em conclusão, a pesquisa determinou que a Panspermia é mesmo viável em escalas galáticas.
“Em teoria, a vida pode mesmo ser transferida entre as galáxias, já que algumas estrelas escaparam da Via Láctea”, disse Loeb.
O estudo acarreta grandes implicações na compreensão da vida como a conhecemos e chegam a dar força a teorias que afirmam que os humanos não nasceram na Terra.
Fica também em aberto a possibilidade de, um dia, encontrarmos vida além do Sistema Solar que tenha alguma semelhança à nossa, pelo menos em nível genético.
Ciberia // ZAP