Manifestantes invadiram o Palácio das Belas Artes na Cidade do México na terça-feira em protesto contra uma pintura que mostra o herói revolucionário Emiliano Zapata fazendo uma pose “não convencional”.
A multidão pediu que a obra seja queimada porque considera a pintura “ofensiva”. Ela mostra Zapata nu, montado em um cavalo, vestindo salto alto e um chapéu rosa.
O neto de Zapata, Jorge Zapata González, quer que a obra seja removida do museu. “Não vamos permitir isso”, disse ele à agência de notícias Associated Press.
“Para nós, como parentes, isso (a obra de arte) denigre a figura de nosso general, representando-o como gay”, disse Zapata González, acrescentando que a família vai processar o governo se a pintura não for removida.
Emiliano Zapata foi um dos principais líderes da Revolução Mexicana. Ele foi assassinado em 1919, aos 39 anos. Cem anos depois, o revolucionário continua sendo um herói aos olhos de muitos mexicanos.
Entre os manifestantes, estavam agricultores arrendatários que admiram Emiliano Zapata — ele próprio um pobre agricultor — pela posição que tomou contra a apropriação de terras por latifundiários.
A manifestação ocorreu durante algumas horas do lado de fora do museu na Cidade do México. Vários insultos homofóbicos foram usados pelo grupo, o que provocou uma reação de pessoas que defendem a diversidade sexual. Houve brigas entre os dois lados.
O termo “Zapata” entrou para os assuntos mais comentados do Twitter no México, com dezenas de milhares de pessoas expressando seu apoio à diversidade sexual ou sua objeção à pintura.
Os manifestantes disseram que pretendem bloquear a entrada do museu até que a pintura seja retirada. O trabalho de Fabián Cháirez, chamado La Revolución, faz parte de uma exposição comemorativa do 100º aniversário da morte de Zapata.
A exposição apresenta 141 obras de arte de 70 coleções. Embora a pintura de Fabián Cháirez, feita em 2014, já tenha sido exposta em outros lugares, ela só chamou mais atenção do público após o Ministério da Cultura usá-la para promover a exposição, compartilhando uma imagem da pintura em suas páginas no Twitter e no Facebook.
Fabián Cháirez disse que teve a ideia da pintura depois de perceber que, na maioria das representações, “a masculinidade de Zapata é glorificada“.
“Há pessoas que sentem desconforto com corpos que não obedecem às normas. Nesse caso, onde está a ofensa? Eles [os manifestantes] veem uma ofensa porque Zapata está em uma postura mais feminina”, disse ele.
Luis Vargas, curador da exposição, disse que a pintura é simplesmente uma representação artística que desencadeia debates sobre questões da sociedade mexicana, incluindo a homossexualidade.
Funcionários do museu disseram que a pintura não será removida, embora os manifestantes tenham ameaçado retornar todos os dias até conseguirem o que querem.
A exposição fica em cartaz até fevereiro de 2020.
// BBC