Ato lembra mais de 40 crianças mortas em tiroteios no Rio

Fernando Frazão / Agência Brasil

Protesto na Praia de Copacabana lembra morte há um ano da menina Maria Eduarda, e de outras 46 crianças vítimas da violência nos últimos 11 anos

Um ato promovido pela organização não governamental Rio de Paz fez hoje (30) uma homenagem a 47 crianças até 14 anos que morreram em tiroteios no estado do Rio de Janeiro, de 2007 a 2018.

A manifestação, que foi realizada nas areias da Praia de Copacabana, coincidiu com o primeiro aniversário da morte de Maria Eduarda Alves da Conceição, de 13 anos, que foi atingida por uma bala perdida dentro de sua escola, em Acari.

A menina estava no ginásio da Escola Municipal Daniel Piza, quando foi atingida por tiros disparados por um policial militar, que participava de uma operação na comunidade. Os policiais Fábio de Barros Dias e David Gomes Centeno foram denunciados por homicídio.

O processo corre na 3ª Vara Criminal do Rio de Janeiro e os dois respondem em liberdade, mas precisam comparecer, de tempos em tempos, ao juízo. Segundo a Polícia Militar, por enquanto, os dois estão executando trabalho administrativo, ou seja, não estão fazendo trabalho de patrulhamento ou policiamento de ruas.

“Para mim é como se tivesse sido ontem. Não vou esquecer nunca a Maria Eduarda, meu bebê. Ela estava estudando para ser aeromoça e atleta. É muita saudade. Eu durmo com a Maria Eduarda. Eu levanto com ela falando: ‘mamãe, está na hora do colégio'”, disse a mãe, Rosilene Alves Ferreira.

Minha filha não estava portando fuzil, minha filha não tava no baile dançando, minha filha estava dentro de uma escola. Os policiais chegaram e mataram o sonho da Maria Eduarda”, conta Rosilene.

A família de Maria Eduarda pede ainda, na Justiça, uma indenização ao Estado. Os parentes também querem apoio psicológico para superar o trauma.

A Secretaria de Estado de Direitos Humanos e Políticas para Mulheres e Idosos (SEDHMI) ofereceu assistência jurídica à família da vítima, junto com a Defensoria Pública do Estado, mas, segundo o governo fluminense, os parentes optaram por utilizar os serviços de um advogado particular.

“Na época, a pasta ainda ofereceu assistência jurídica e social aos parentes da vítima, entretanto, não manifestaram interesse. A SEDHMI reforça a disponibilidade em oferecer apoio psicológico, jurídico e social”, diz a nota.

(dr)

Maria Eduarda Alves da Conceição

O protesto

O ato da ONG Rio de Paz envolveu a colocação de varais com placas que traziam o nome de cada uma das 47 vítimas. Além disso, havia pertences das vítimas e manchas vermelhas na areia, que simbolizavam o sangue das crianças.

Durante o protesto, dezenas de colegas de escola de Maria Eduarda fizeram um minuto de silêncio em homenagem às crianças. Outra das vítimas homenageadas foi o menino Jeremias Moraes da Silva, morto, segundo a família, por policiais militares dentro da favela Nova Holanda.

“A gente vê um caveirão da PM entrando numa comunidade, a gente já sai correndo, porque sabe que ele vai atirar. A criança estava de costas na porta de uma irmã da igreja. Por que a polícia atirou? Não consigo ter essa resposta. Ele não estava armado, não estava com drogas, não estava com nada. A polícia atirou por quê? ”, disse a mãe do menino, Vânia Moraes da Silva.

Segundo o presidente da ONG Rio de Paz, Antônio Carlos Costa, muitas dessas mortes ocorreram em confrontos envolvendo a polícia. Segundo ele, as autoridades públicas não podem deixar os criminosos agirem impunemente, mas o trabalho de segurança pública deveria ser feito com mais inteligência, de forma a não fazer vítimas inocentes.

Ninguém quer bandido solto, aterrorizando, matando. Mas ninguém quer que uma criança pague com o seu sangue o preço de uma pacificação que nunca chega”, disse.

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