Os EUA lançaram dezenas de mísseis de cruzeiro contra uma base aérea na Síria, no primeiro ataque direto contra o regime de Bashar al-Assad desde que começou a guerra civil. A Rússia, aliada de Assad, fala em uma “agressão”.
O ataque dos EUA à Síria logo após o bombardeio com armas químicas contra uma localidade no norte da Síria, que matou mais de 80 civis na terça-feira.
O exército norte-americano disparou 59 mísseis “Tomahawk” contra a base aérea de Shayrat, em Homs, de onde o Governo norte-americano acredita que partiram os caças que executaram os ataques aéreos contra civis, de acordo com fontes militares.
“Todos os aviões militares estacionados em Shayrat estão inoperacionais. Podemos dizer que a base foi completamente destruída”, disse um funcionário da base militar Síria citado pela Sputnik News.
Os números da agência oficial síria Sana apontam para nove civis mortos, entre os quais quatro crianças. O governador da província de Homs disse que o ataque matou três soldados e dois civis.
Já o Observatório Sírio dos Direitos Humanos (OSDH, oposição), com sede em Londres, afirmou que o ataque matou quatro soldados, incluindo um general.
A decisão de Donald Trump de tomar medidas de forma unilateral contra o Governo sírio está provocando incômodo na Rússia, num momento em que decorrem conversas no Conselho de Segurança da ONU. Mas até agora, o grupo continua muito dividido e ainda não tomou uma resolução sobre a situação.
Putin classifica ataque dos EUA como “agressão”
O presidente russo classificou o ataque como “uma agressão” com um “pretexto inventado” e disse que a ação de Washington prejudica as relações entre os dois países.
Vladimir Putin “considera que os ataques norte-americanos na Síria são uma agressão contra um Estado soberano e uma violação do direito internacional, já que aconteceram sob um pretexto inventado”, disse à imprensa o porta-voz do Kremlin, Dmitri Peskov.
O presidente russo “vê nos ataques uma intenção por parte dos Estados Unidos de desviar a atenção da comunidade internacional das múltiplas vítimas entre a população civil no Iraque”, onde as tropas norte-americanas lideram uma operação militar contra o grupo extremista Estado Islâmico (EI), acrescentou o porta-voz.
A Rússia já pediu uma reunião de emergência do Conselho de Segurança das Nações Unidas “para discutir a situação”, conforme disse o ministro dos Negócios Estrangeiros russo através de comunicado.
O chefe da diplomacia russa acrescenta que os ataques dos Estados Unidos constituem “uma ameaça à segurança internacional”.
A Rússia também anunciou que vai suspender o acordo com os EUA para prevenir incidentes aéreos sobre a Síria. Os russos têm dezenas de aviões de guerra e baterias antiaéreas na sua base no país.
As Forças Armadas russas também indicaram que o ataque dos EUA sobre Shayrat destruiu seis caças sírios estacionados nas instalações e que apenas 23 dos 59 mísseis lançados atingiram o espaço militar.
Alemanha, França e Reino Unido ao lado de Trump
Entretanto, a comunidade internacional reagiu ao ataque. Portugal anunciou que “compreende” os aliados que atuam em retaliação a “crimes de guerra”, disse o ministro dos Negócios Estrangeiros, Augusto Santos Silva.
Também na França e na Alemanha, François Hollande e Angela Merkel se manifestam ao lado dos EUA, considerando que o presidente sírio, Bachar al-Assad, tem a “inteira responsabilidade” pelos ataques norte-americanos.
Em uma declaração conjunta, Hollande e Merkel consideram que o presidente Assad “tem responsabilidades devido ao uso repetido de armas químicas e pelos crimes contra o seu povo”. Os dois líderes apelaram ainda à comunidade internacional para “uma união de forças para uma transição política na Síria, de acordo com a resolução da ONU”.
Também o secretário-geral da NATO, Jens Stoltenberg, acusa o regime sírio de ter “a responsabilidade total“ pelo ataque químico de terça-feira, considerando que “qualquer uso de armas químicas é inaceitável e não pode ser ignorado”.
O Governo britânico anunciou igualmente, que “apoia plenamente a ação dos Estados Unidos”, com um porta-voz de Theresa May a realçar que é “uma resposta apropriada ao ataque bárbaro com armas químicas realizado pelo regime sírio”.
Por outro lado, o Irã condenou “vigorosamente” os bombardeamentos norte-americanos e a China pede para que seja evitada uma “nova deterioração da situação” na Síria.
Mas um porta-voz do Ministério dos Negócios Estrangeiros chinês destacou que o país se opõe “ao uso de armas químicas, por qualquer país, organização, ou indivíduo, sejam qual forem as circunstâncias e objetivos”.
O comando do exército da Síria acusou os Estados Unidos de se tornarem “um aliado de terroristas”, nomeadamente do grupo extremista Estado Islâmico (EI) e da Frente Al-Nosra, nome que usava a atual Frente de Conquista do Levante até que se desligou da rede terrorista Al-Qaida, em julho passado.
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